Em primeiro lugar, é preciso entender que
Deus não nos proíbe de fazer imagens, mas sim imagens “de ídolos”, ou seja, de
deuses falsos.
Já no Antigo Testamento, o próprio Deus
prescreveu a confecção de imagens como querubins, serpentes de bronze, leões do
palácio de Salomão etc. A Bíblia defende o uso de imagens como é possível
verificar em muitas passagens: Ex 25,17-22; 37,7-9; 41,18; Nm 21,8-9; 1Rs
6,23-29.32; 7,26-29.36; 8,7; 1Cr 28,18-19; 2Cr 3,7.10-14; 5,8; 1Sm 4,4; 2Sm
6,2; Sb 16,5-8; Ez 41,17-21; Hb 9,5 e outras mais.
Os profetas condenavam a confecção de imagens
“de ídolos”: “Os que modelam ídolos nada são, as suas obras preciosas não
lhes trazem nenhum proveito. Quem fabrica um deus e funde um ídolo que de nada
lhe pode valer?” (Isaías 44,9-17).
O que é um ídolo?
1 – substitui o único e verdadeiro Deus;
2 – são-lhes atribuídos poderes exclusivamente divinos, e
3 – são-lhe oferecidos sacrifícios devidos ao verdadeiro Deus. É o que os
judeus antigos, no deserto, fizeram com o bezerro de ouro (cf. Ex 32).
Não é o que os católicos fazem. A Igreja
Católica nunca afirmou que devemos “adorar” as imagens dos santos; mas as
venerar, o que é muito diferente.
A imagem é um objeto que apenas lembra a pessoa ali representada; o ídolo, por
outro lado, “é o ser em si mesmo”. A quebra de uma imagem não destrói o ser que
representa; já a destruição de um ídolo implica a destruição da falsa
divindade.
Para Deus, e somente para Ele, a Igreja
presta um culto de adoração (“latria”), no qual reconhecemos Deus como
Todo-Poderoso e Senhor do universo. Aos santos e anjos, a Igreja presta um
culto de veneração (“dulia”), homenagem.
A Nossa Senhora, por ser a Mãe de Deus, a
Igreja presta um culto de “hiper-dulia”, que não é adoração, mas
hiper-veneração. A São José “proto-dulia”, primeira veneração.
A palavra “dulia” vem do grego “doulos”, que
significa “servidor”. Dulia, em português, quer dizer reverência, veneração.
“Latria” é adoração, vem do grego “latreia”, que significa serviço ou culto
prestado a um soberano senhor. Em outras palavras, significa adoração. Então,
não há como confundir o culto prestado a Deus com o culto prestado aos santos.
Rogando aos santos, não os olhamos nem os
consideramos senão nossos intercessores para com Jesus Cristo, que é o único
Medianeiro (cf. 1Tm 2,4), que nos remiu com Seu Sangue e por quem podemos
alcançar a salvação. A mediação e intercessão dos santos não substituem a única
e essencial mediação de Cristo, o único Sacerdote, mas é uma mediação “por meio
de” Cristo, não paralela nem substitutiva. Sem a mediação única de Cristo
nenhuma outra tem poder.
Significado da imagem de um santo
A imagem de um santo tem um significado profundo. Quando se olha para ela, a
imagem nos lembra que a pessoa, ali representada, é santa, viveu conforme a
vontade de Deus. Então, é um “modelo de vida” para todos.
A imagem lembra também que aquela pessoa está
no céu, isto é, na comunhão plena com o Senhor; ela goza da chamada “visão
beatífica de Deus” e intercede por nós sem cessar, como reza uma das orações
eucarísticas da Missa.
São Jerônimo dizia: “Se, aqui na Terra, os
santos, em vida, rezavam e trabalhavam tanto por nós, quanto mais não o farão
no céu, diante de Deus. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia que “ia passar o
céu na terra”, isto é, intercedendo pelas pessoas.
O Catecismo da Igreja nos ensina o seguinte
no §956: “Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais
intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja.
Eles não deixam de interceder por nós junto ao Pai, apresentando os méritos que
alcançaram na Terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por
seguinte, pela fraterna solicitude deles, a nossa fraqueza recebe o mais
valioso auxílio” (LG 49).
A imagem de um santo nos lembra ainda que ele
é santo pelo poder e graça de Deus; então, a veneração da imagem dá glória ao
Senhor, mais que ao santo. São Bernardo, doutor da Igreja, sempre que passava
por uma imagem de Nossa Senhora dizia: “Salve, Maria!”. Um dia, depois de dizer
essas palavras, Nossa Senhora lhe disse: “Salve, Bernardo!”.
Podemos tocar e beijar as imagens como um gesto
de amor, reverência e veneração, não de adoração. Não fazemos isso com a imagem
de um ente querido falecido? Podemos admirar as imagens – por isso elas devem
ser bem feitas, em clima de oração – e rezar diante delas, pedindo ao santo,
ali representado, que interceda diante de Deus. É Ele quem faz o milagre, mas o
pedido vem dos santos, como nas Bodas de Caná, onde Jesus fez a transformação
de 600 litros de água em vinho, “porque Sua Mãe intercedeu”. Ainda não era a
hora dos seus milagres!
A
intercessão dos santos
A intercessão dos santos é algo maravilhoso.
Quando nós precisamos de um favor de uma pessoa importante, mas não conseguimos
chegar até ela, então, procuramos um mediador, um intercessor, que seja amigo
dessa pessoa, para fazer a ela o nosso pedido.
E a pessoa importante a atende por ter
intimidade com nosso intercessor. Ora, fazemos o mesmo com Deus. Não temos
intimidade com Ele como os santos que já estão na Sua glória; nossos pecados
limitam nossa intimidade com o Pai; então, os santos nos ajudam. Mas, como eles
podem ouvir todos os pedidos ao mesmo tempo sem que tenham a onisciência e a
onipresença de Deus? É simples. Na vida eterna, já não há mais as realidades
terrenas do tempo e espaço. A comunhão perfeita com Deus dá aos santos o
conhecimento de nossas orações e pedidos e, na plenitude de Deus, e por meio
d’Ele, não há a dificuldade de atender a todos ao mesmo tempo, pois já não
existe mais esse fator limitador. No Céu, a realidade é outra.
Alguns perguntam: mas os mortos não estão
todos dormindo, aguardando a ressurreição? Não. Jesus contou o caso do pobre
Lázaro, o qual já estava no seio de Abraão, vivo e salvo, e o rico que sofria
as penas eternas. A alma não dorme. No livro de Macabeus (2Mac 15, 11-15),
temos a narrativa de Judas Macabeus, que teve a visão do sacerdote Onias, já
falecido, orando pelo povo judeu.
Por tudo isso, as imagens precisam ser bem
feitas, mais parecidas possíveis com o santo. Não devemos fazer imagens mal
feitas ou mal pintadas. Quando não há uma foto ou uma pintura de santos
antigos, então é licito que artistas sugiram uma imagem que a Igreja abençoe.
Quando uma imagem que foi benzida se quebra,
e não é possível restaurá-la, então deve ser enterrada, destruída ou colocada
em um lugar onde não haja profanação dela. Se for de material combustível, pode
ser queimada.
O Concílio Ecumênico de Nicéia, no ano 789,
que aprovou o uso de imagens, disse:
“Na trilha da doutrina divinamente inspirada
de nossos santos padres e da tradição da Igreja Católica, que sabemos ser a
tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda certeza e acerto
que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da cruz preciosa
e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria
apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios
e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto
a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de Nossa
Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os
santos e dos justos.”
São João Damasceno, doutor da Igreja, dizia:
“A beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus
olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a
Deus.”
Prof
. Felipe Aquino
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