Era 27 de dezembro de 1983 quando o Papa João Paulo II foi até o presídio de Rebibbia, em Roma, para se encontrar com o presidiário turco Mehmet Ali Ağca.
Ali Ağca era terrorista. Ali Ağca tinha tentado matar o Papa, havia dois anos e meio, em plena Praça de São Pedro, no Vaticano.
Mas Ali Ağca não contava com duas coisas:
- Primeiro, que justamente a bala com o maior potencial de matar o Papa fosse inexplicavelmente “desviada” dentro do seu próprio corpo por alguma “mão invisível”;
- Segundo, que João Paulo II não apenas sobrevivesse e se recuperasse apesar de ter estado no limiar da morte, mas ainda fosse até o presídio romano para perdoar pessoalmente o homem que tinha tentado assassiná-lo.
Ali Ağca, afinal, tinha escolhido sem querer um dia especialmente emblemático para tentar matar um Papa cujo lema pontifício era “Totus tuus ego sum, Maria, et omnia mea tua sunt”: “Sou todo teu, Maria, e tudo o que é meu é teu”: o terrorista tinha tentado matar esse Papa profundamente devoto de Nossa Senhora em pleno dia de Nossa Senhora de Fátima, 13 de maio de 1981…
13 de maio de 1981: dois tiros atingem o Papa
Eram 17h19min, em Roma, naquele dia de Nossa Senhora de Fátima. Em pé na parte traseira do papamóvel, João Paulo II circulava lentamente pela Praça de São Pedro. O papamóvel parou e o papa se inclinou diante de uma menina de dois anos de idade que lhe estendia as mãos. João Paulo II a levantou nos braços, lhe deu um beijo e devolveu a criança aos pais com um sorriso.
De repente, um tiro.
Uma revoada de pombas assustadas agitou os ares do Vaticano.
Mais um tiro.
João Paulo II pendeu para o lado de seu secretário particular, o cardeal Stanislaw. Do local de onde os tiros tinham partido, levantava-se um tumulto em torno a um jovem que se debatia. Era Mehmet Ali Ağca, o agressor.
Às portas da morte
A primeira bala perfurou o cólon do papa, dilacerou em vários pontos o seu intestino delgado e lhe atravessou o corpo, caindo depois dentro do jipe. A segunda passou de raspão pelo cotovelo direito de João Paulo II, fraturou seu dedo indicador esquerdo e ainda feriu duas peregrinas norte-americanas.
O papamóvel arrancou em alta velocidade em direção aos Serviços de Atendimento de Emergência do Vaticano, onde o médico pessoal do papa, Dr. Renato Buzzonetti, já tinha sido chamado com urgência.
João Paulo II sangrava muito e foi levado de imediato para o Hospital Gemelli. A vida de um papa se apagava. Logo após a chegada ao hospital, o Santo Padre perdeu a consciência. Os médicos que realizaram a operação de emergência chegaram a confessar, tempos depois, que duvidavam da sobrevivência do papa devido à gravidade do ferimento e aos sérios problemas com a pressão sanguínea e com os batimentos cardíacos de João Paulo II. O Dr. Buzzonetti pediu ao cardeal Stanislaw que ministrasse ao papa a Unção dos Enfermos. Foram cinco horas extremamente tensas de operação e de espera. O mundo permanecia estarrecido. Terminada a intervenção dos médicos, chegou o aviso, ainda interno ao hospital, de que os procedimentos tinham corrido bem e de que as esperanças de recuperação tinham aumentado.
Novamente, Nossa Senhora
O papa só pôde voltar ao Vaticano algumas semanas depois. Complicações, no entanto, o obrigaram a retornar ao hospital. Foi só no dia 14 de agosto, véspera da Assunção de Nossa Senhora, que João Paulo II deixou definitivamente a clínica Gemelli.
13 de maio, dia de Nossa Senhora de Fátima.
15 de agosto, dia da Assunção de Nossa Senhora aos céus.
João Paulo II sobreviveu a um atentado covarde e mortal em um dia dedicado a Maria. João Paulo II voltou recuperado ao Vaticano em outro dia dedicado a Maria.
A bala que atravessou o corpo do Santo Padre foi guardada e levada pessoalmente por ele próprio ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, durante uma peregrinação de ação de graças pela proteção materna de Maria. O projétil foi incrustado na coroa de ouro da Santíssima Virgem de Fátima, na redoma de vidro da Capelinha das Aparições.
O perdão e o segredo
No dia 27 de dezembro de 1983, João Paulo II foi até o presídio de Rebibbia, em Roma, para se encontrar com Mehmet Ali Ağca.
Não foi o primeiro gesto cristão do Papa para com seu quase-assassino. Já em 17 de maio de 1981, apenas cinco dias após o atentado, o Papa recitava o Ângelus direto do hospital para os fiéis que estavam na Praça de São Pedro. Naquela ocasião, João Paulo II declarou:
“Rezo pelo irmão que me feriu, a quem perdoei sinceramente”.
No dia da visita ao presídio, num cômodo simples, sentado ao lado de Ağca e com a cabeça inclinada para ouvi-lo melhor, o Santo Padre se surpreendeu com uma pergunta feita pelo seu agressor:
“Por que o senhor não morreu? Eu sei que mirei certo. Eu sei que o projétil era devastador e mortal. Então por que o senhor não morreu”?
Não há registros gravados, evidentemente, da conversa particular que o papa teve com Mehmet Ali Ağca naquele dia em Rebibbia.
Em outra ocasião, porém, João Paulo II comentou sobre aquele impactante dia 13 de maio de 1981:
“Uma mão disparou. Mas outra mão guiou a bala”.
via Aleteia
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