“Estudando para me tornar pastor, decidi voltar à Igreja Católica”


Por mais doloroso e difícil que fosse o retorno, “nenhum laço podia me deter por mais tempo. Eu estava convencido de ter encontrado a plenitude da Verdade e da salvação na Santa Igreja Católica.”



O testemunho que publicamos a seguir dispensa introduções. Foi-nos enviado por um aluno, Igor Pires do Nascimento, que de muito bom grado nos escreveu, pedindo que o compartilhássemos como “instrumento de esclarecimento” e, ao mesmo tempo, “fonte de motivação” para todos que se encontram fora da Igreja e hesitam em atravessar-lhe as portas.


Foi estudando num seminário protestante, a fim de se tornar “ministro presbiteriano”, que Igor passou a “estudar melhor a história da Igreja anterior à reforma protestante”, deparando-se com a doutrina da Igreja sobre a Sagrada Eucaristia. Desse encontro surgiu uma convicção: por mais doloroso e difícil que fosse abandonar a religião em que conhecera a Cristo, “nenhum laço podia me deter por mais tempo, porque estava convencido de que havia encontrado a plenitude da Verdade e da salvação na Santa Igreja Católica”.

Quando começou o meu retorno à Igreja Católica?

Acredito que teve início quando passei a me interessar pela história e pelas teologias da “reforma protestante”. Na época eu era um rapaz de aproximadamente dezoito anos que fazia parte de uma igreja pentecostal, cujo ensinamento possuía uma forte ênfase em “usos e costumes”, assim o classificava então. A “teologia dos reformadores”, com sua ênfase na Graça (o sola gratia), me atraiu, pois via nela a possibilidade de me desvencilhar de uma “piedade” que obscurecia a iniciativa do amor divino, no meu julgamento.

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Todavia, sempre serei grato pelas bênçãos recebidas naquela igreja, desde os meus doze anos: a vida dos meus pais, a nossa vida, mudou radicalmente naquele tempo. Vícios foram abandonados, a vida profissional de meu pai melhorou muito, nossa convivência no lar ficou mais alegre e serena, além dos estudos passarem a ocupar um lugar mais importante em nosso cotidiano.

Naquela época, portanto, fui para uma igreja neopentecostal e, durante uns cinco anos, passei por outras duas igrejas desse tipo. Nelas encontrei certo alívio para o que me incomodava.

Todavia, quanto mais eu procurava conhecer a história e as teologias das igrejas da “reforma”, mais constatava o quanto as igrejas neopentecostais estão longe das suas origens no século XVI. Foi assim que em 2005 decidi me tornar presbiteriano, pois identificava numa de suas denominações (existem algumas denominações presbiterianas no Brasil) líderes e expoentes mais comprometidos com a tradição reformada calvinista. Julgava haver encontrado uma igreja onde eu pudesse ser não apenas “mais um evangélico”, mas um protestante com toda a coerência que minha capacidade permitisse.

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No início de 2011 comecei a estudar num seminário denominacional a fim de me tornar ministro presbiteriano. Foi precisamente a partir daquele ano até o início de 2014 que começaria o meu retorno à Fé Católica. E, agora sim, esclareço porque foi um retorno: recebi o Sacramento do Batismo na infância.

Retomando o trajeto: foi no seminário que passei a estudar melhor a história da Igreja anterior à reforma protestante. Mesmo lendo historiadores evangélicos, fui chegando à conclusão de que a busca por um grupo que preconizasse a igreja protestante, numa linha histórica anterior ao surgimento do protestantismo, sempre me conduziria a movimentos heréticos e cismáticos.

Para resumir, ficava cada vez mais patente a importância da “Tradição da Igreja” para diversos aspectos essenciais da Fé que eu estava estudando em Cristologia, Eclesiologia, interpretação das Sagradas Escrituras... Nesse ponto, então, sentia falta de uma palavra final de esclarecimento, pois o princípio hermenêutico protestante de que “somente as Escrituras explicam as Escrituras” gerou (e continua gerando) confusões e divisões.

Buscando na Tradição, especialmente nos Padres da Igreja, o que ensinaram acerca da Eucaristia, por exemplo, fiquei cada vez mais convencido de que a Missa não era uma invenção medieval e cheia de corrupções. Dentre eles, o que finalmente me cativou e fez rever minha fé foi São Cirilo de Jerusalém. Permitam-me reproduzir um pequeno trecho, escrito por ele, da sua Quinta Catequese Mistagógica:

Após nos termos santificado por estes hinos espirituais, suplicamos a Deus, Amigo dos homens, que envie o Espírito Santo sobre as oblatas postas no altar, e faça o pão corpo de Cristo, o vinho sangue de Cristo. Pois tudo que o Espírito Santo atinge fica santificado e transmudado.

Depois de consumado o sacrifício espiritual, o culto incruento, rogamos a Deus, sobre aquela hóstia de propiciação, em favor da paz geral das igrejas, da estabilidade do mundo... pelos quais suplicamos e oferecemos este sacrifício.

Em seguida mencionamos os que já dormiram: primeiro, os patriarcas, profetas, apóstolos, mártires, para que Deus em virtude de sua preces e intercessões, receba nossa oração. Depois, rezamos… por todos os que já dormiram antes de nós. Acreditamos que esta oração aproveitará sumamente às almas pelas quais é feita, enquanto repousa sobre o altar a santa e temível vítima. [1]

Esse trecho do século IV colocava diante de mim, no século XXI, a mesma Missa celebrada atualmente! Mais ainda, confrontava-me com ensinamentos que sempre havia julgado como corrupções tardias. Na verdade, tive de admitir que as “corrupções tardias” foram introduzidas pelos chamados “pré-reformadores” e levadas às últimas consequências pelos reformadores protestantes.

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Foi nesse período de estudos e descobertas que entrei em contato com o apostolado do Pe. Paulo Ricardo. Obviamente não foi um “contato amistoso”, pois, antes de conhecer seu site, vi um vídeo com o trecho de uma homilia sua: tratava-se de uma parte na qual ele expunha alguns erros do protestantismo — uma edição descontextualizada com o intuito de denegri-lo. Mas, assim que passei a assistir suas aulas, palestras e homilias, percebi que se tratava de um sacerdote sincero com grande capacidade apologética. Quanto mais assistia a seus vídeos, mais ficava convencido sobre a necessidade de voltar à Igreja Católica.

O retorno não foi fácil, festivo e rápido. Foi gradual, doloroso e difícil. Entre a primeira vez que mencionei tal intenção à minha esposa até a decisão dela, de retornar também, passou-se um ano e meio aproximadamente. Para a minha alegria, recebi do Senhor essa imensa graça e consolo: retornei à Igreja com minha esposa Mariana — também batizada na infância. Mas, assim que tranquei minha matrícula no seminário e decidimos tornar pública nossa decisão em meados de 2014, foram inevitáveis as grandes decepções que causamos.

Entendemos perfeitamente as razões pelas quais nossos amigos e familiares se decepcionaram, pois éramos estimados e estavam em questão a Verdade e a nossa salvação. Contudo, nenhum laço podia me deter por mais tempo, porque estava convencido de que havia encontrado a plenitude da Verdade e da salvação na Santa Igreja Católica, o Corpo Místico de Cristo. O único vínculo que ainda nos une aos nossos amigos e irmãos presbiterianos é a gratidão! Recebemos muito deles: presença fraterna em diversos momentos da nossa vida, boas formações nos estudos bíblicos e palestras e investimentos que nunca poderemos retribuir adequadamente, senão suplicando as bênçãos de Deus sobre todos!

Agradecemos a Deus, acima de tudo, por nos reconduzir à Sua Família. Ele, misericordiosamente, colocou pessoas muito especiais em nosso caminho, para nos ajudar nessa travessia em alto-mar para a Barca de Pedro. Fomos ajudados pela Prelazia do Opus Dei, especialmente por meu amigo Daniel Nascimento (cooperador da Obra) e por um sacerdote da Prelazia, hoje meu diretor espiritual. Na Obra minha esposa e eu temos recebido uma valiosa formação cristã por meio dos recolhimentos, círculos e retiros, além da preciosa convivência com seus membros que são responsáveis por essas formações.

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Não poderia deixar de agradecer, também, ao Monsenhor Sergio Costa Couto, capelão da Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, que muito nos ajudou e tem acompanhado paternalmente; e também ao Pe. Geraldo Abílio Ribeiro, SSCC, pároco da Igreja dos Sagrados Corações na Tijuca, Rio de Janeiro — paróquia a que pertencemos atualmente. Foram estes os primeiros a nos dar as boas vindas à Santa Igreja.

Ofereço esse testemunho a Maria Santíssima, Nossa Mãe Imaculada, para que se sirva dele como instrumento de esclarecimento e transforme-o numa fonte de motivação para os que temem fazer o mesmo retorno, de fortalecimento para os tíbios e de edificação dos que amam a Santa Igreja.

Santa Maria, esperança nossa e sede da Sabedoria, rogai por nós!

Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 2016
Igor Pires do Nascimento



[1] Excerto retirado do livro “Antologia dos Santos Padres”, Cirilo Folch Gomes, OSB, Edições Paulinas, 1979. Citado pelo próprio autor do testemunho.

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