Foi de lá também que ele trouxe sua linda e
bondosa esposa, Dona Pica. Foi batizado em Santa Maria Maior (antiga catedral de
São Rufino) com o nome de João (Giovanni). Mas quando Pietro Bernardone voltou
de uma viagem à França, mudou de idéia e resolveu trocar o nome do filho para
Francisco, prestando uma homenagem àquela terra.
Sua mãe era de origem provençal: as primeiras
palavras ternas e afetuosas que o menino ouviu foram francesas. Esta língua foi
gravada no seu coração: assim, afirmou o seu primeiro biógrafo, Tomás de
Celano: “quando manifesta a sua alegria, canta na doce língua dos trovadores da
cavalheiresca Provença”.
Segundo a maioria dos biógrafos de São
Francisco, os padres de São Jorge lhe deram formação adequada e educação
cristã. Mas o caráter e as qualidades melhores lhe vieram da mãe: meiga e
firme, cristã fervorosa, toda dedicada à família.
Cedo, o garoto Francisco aprendeu do pai a
arte do comércio que manejava com inteligência e proveito. Mas era um jovem
alegre, amante da música e das festas e, com muito dinheiro para gastar,
tornou-se rapidamente um ídolo entre seus companheiros.
Adorava banquetes, noitadas de diversão e cantar serenatas para as
belas damas de sua cidade. Enfim, Francisco era o líder da juventude de sua
cidade.
Conflitos entre Feudos e
Comunas
A Itália, como toda a Europa daquela época, vivia uma fase
bastante conflitiva de sua história, marcada pela passagem do sistema feudal
(baseado na estabilidade, na servidão e nas relações desiguais entre vassalos e
suseranos) para o sistema burguês, com o surgimento das “comunas” livres
(pequenas cidades), com seu comércio, artesanato e pequenas indústrias. Com o
novo sistema, mudaram-se as relações. O poder dos senhores feudais passou a ser
questionado e enfrentado pelos novos senhores, originários das comunas, a
maioria deles constituída pelos comerciantes mais abastados, a exemplo de Pedro
Bernardone. Eram freqüentes nesta época guerras e batalhas entre os senhores
feudais e as emergentes comunas. São conhecidas as lutas entre “maiores”, isto
é, a nobreza e os “minores”, vale dizer, a classe emergente.
Além destas lutas, havia choques entre o
Imperador, como a força civil do Sacro Império, e o Papa, como chefe
espiritual, misturando nesta luta os interesses, de maneira que havia uma
constante guerra, ora fria ora real. E a cidade de Assis, por sua posição
geográfica no entroncamento Alemanha-Roma, e por sua importância comercial,
trocava constantemente de “dono”: ora no alto de sua fortaleza, a Rocca
Maggiore, tremulava a bandeira do Papa, ora a do Imperador.
Como todo jovem ambicioso de sua época,
Francisco desejava conquistar, além da fortuna, também a fama e o título de
nobreza. Para tal, fazia-se necessário tornar-se herói em uma dessas freqüentes
batalhas. No ano de 1201, incentivado por seu pai, que também ansiava pela fama
e nobreza, Francisco partiu para mais uma guerra que os senhores feudais,
baseados na vizinha cidade de Perúsia, haviam declarado contra a Comuna de
Assis.
Durante os combates, em uma tarde de inverno,
Francisco caiu prisioneiro, sendo levado para a prisão de Perúgia, onde
permaneceu longos e gelados meses. Para um jovem cheio de vida como ele, a
inércia da prisão deve ter sido especialmente dolorosa! Somente seu espírito
alegre, seu temperamento descontraído e seu gosto pela música o salvaram do
desespero. Encontrava ainda forças para reconfortar e reanimar a seus
companheiros de infortúnio.
Costumava dizer, em tom de brincadeira para
seus companheiros: “Como quereis, que eu fique triste, sabendo que grandes
coisas me esperam? O mundo inteiro ainda falará de mim!”
Ao término de um ano foi solto da prisão,
retornando para Assis, onde se entregou novamente aos saudosos divertimentos da
juventude e às atividades na casa comercial de seu pai.
O Inicio da Conversão
O clima insalubre da prisão, agravado pelos prolongados meses de
inverno, haviam-lhe enfraquecido o organismo, provocando agora uma grave
enfermidade. Depois de longos meses de sofrimento, sem poder sair da cama,
finalmente conseguiu melhorar.
Ao levantar-se, porém, não era mais o mesmo
Francisco. Sentiu-se diferente, sem poder compreender o porquê. A verdade é que
a humilhação e o sofrimento da prisão, somados ao enfraquecimento causado pela
doença, provocaram profundas mudanças no jovem Francisco.
Foi o caminho que Deus escolheu para entrar
mais profundamente em sua vida. Já não sentia mais prazer nas cantigas e
banquetes em companhia dos amigos. Começou a perceber a leviandade dos prazeres
puramente terrenos, embora ainda não buscasse a Deus. Na verdade, Francisco não
nasceu santo, mas lutou muito para se tornar santo!
No livro “Francisco”, o autor Gianmaria
Polidoro (Editora Vozes) lembra que entre 1202 e 1205 encontramos um Francisco
inquieto. Não é apenas a consequência de uma doença longa e misteriosa. É a
inquietude de quem está incerto quanto ao rumo a dar à própria vida e se põe em
estado de busca. Não sabe precisamente onde quer terminar, mas sente que, ao
longe, um futuro desconhecido o chama.
Foi nessa época que começou a pensar um pouco
sobre a vida de cavaleiro. Era o tempo das cruzadas, das lutas especiais, dos
cantos trovadorescos de Orlando de Ronscisvale. Tornar-se cavaleiro? Poderia
ser uma idéia.
Mais
uma guerra
Francisco havia perdido o gosto pelos
prazeres mundanos, mas conservava ainda a ambição da fama. Por esse motivo,
sonhava com a glória das armas e a nobreza, que se conquistavam nos campos de
batalha. Por isso, aderiu prontamente ao exército que o Conde Gentile de Assis
estava organizando para ajudar o Papa Inocêncio III na defesa dos interesses da
Igreja. Contou para isso com a aprovação entusiasmada do pai, que vislumbrava
aí a oportunidade tão longamente esperada de enobrecer sua família. Deus,
porém, lhe reservava algumas surpresas …
Antes de partir, num impulso de
generosidade, Francisco cedeu a um amigo mais pobre os ricos trajes e a
armadura caríssima que havia preparado para si.
Partiu de Assis, entre aplausos dos
assisienses, esfusiante de entusiasmo. Mas não foi longe. Já na cidade de
Espoleto, ele e os companheiros pararam para pernoitar. Na hora da retomada da
marcha, sintomas de febre fizeram com que Francisco não pudesse partir. Foi,
então, que teve uma experiência modificante de sua vida. Pensou ter ouvido a
voz do Senhor, com quem dialogou:
- Francisco, o que é mais importante,
servir ao Senhor ou servir ao servo?
- Servir ao Senhor, é claro – respondeu
o jovem.
- Então, por que te alistas nas
fileiras do servo?
- Senhor, o que quereis que eu faça?
- Volta a Assis – lhe diz a voz – e ali
te será dito.
Retorno a Assis
Desafiando os sorrisos de desdém dos
vizinhos e a cólera de Pedro Bernardone, contrariado em seus projetos,
Francisco retornou a Assis, dando prova da energia de seu caráter e do valor do
seu ânimo, virtudes que se mostrariam valiosas mais tarde nos percalços de seu
novo caminho.
Começou a longa busca e a longa espera:
“O que Deus quer de mim? O que Ele quer que eu faça?” Era esse o constante
questionamento de Francisco.
Sentia um vazio dentro de si, que as
festas, farras, bebedeiras e guerras não conseguiam mais preencher. Estava
inquieto e insatisfeito, mas não sabia bem por quê.
Em vão tentaram seus amigos atraí-lo
outra vez para suas diversões, banquetes e trovas. Até o fizeram coroar,
durante uma festa, como o “Rei da Juventude”, mas nada disso o comoveu. Já não
era isso que o atraía. Sua busca era outra …
Para tentar desvendar os desígnios de
Deus, passou a se dedicar à oração e à meditação. Percorria campos e florestas
em busca de lugares mais tranquilos, em busca de respostas para suas dúvidas e
inquietações. Para ele, tudo passou a ter outro sentido. Passou a enxergar as
coisas com outros olhos e outro coração.
Viagem a Roma
Em busca de respostas, decidiu viajar
para Roma, isso no ano de 1205. Visitou a tumba do Apóstolo São Pedro e,
indignado pelo que viu, exclamou: “É uma vergonha que os homens sejam tão
miseráveis com o Príncipe dos Apóstolos!” E jogou um grande punhado de moedas
de ouro, contrastando com as escassas esmolas de outros fiéis menos generosos.
A seguir, trocou seus ricos trajes com
os de um mendigo e fez sua primeira experiência de viver na pobreza. Voltou a
Assis, à casa paterna, entregando-se ainda mais à oração e ao silêncio.
Frequenta sempre mais os ermos perto de
São Damião, pequena e mal conservada igreja do campo, a meio caminho na estrada
que de Assis desde para a planície, até a estrada que vai para a França.
A família e os amigos estavam
preocupados com o jovem Francisco: o que lhe estaria acontecendo? Será que
ainda estava em pleno juízo? Seu pai, então, não se conformava! Não era isso
que ele tinha sonhado para seu filho! Indignado, forçava-o a trabalhar cada vez
mais em seu estabelecimento comercial.
Era o ano de 1205!
O Beijo no Leproso
Pouco depois, entrou para rezar e
meditar na pequena capela de São Damião, semidestruída pelo abandono. Estava
ajoelhado em oração aos pés de um crucifixo, que a piedade popular ali
venerava, quando uma voz, saída do crucifixo, lhe falou: “Francisco, vai e
reconstrói a minha Igreja que está em ruínas”.
Não percebendo o alcance desse chamado
e vendo que aquela Igrejinha estava precisando de urgente reforma, Francisco
regressou a Assis, tomou da loja paterna um grande fardo de fina fazenda e
vendeu-a. Retornando, colocou o dinheiro nas mãos do sacerdote de São Damião,
oferecendo-se para ajudá-lo na reconstrução da capela com suas próprias mãos.
Conhecendo o caráter de Pedro Bernardone, é fácil imaginar sua cólera ao ver
desfalcada sua casa comercial e perdido o seu dinheiro.
Não bastava já o desfalque que dava ao
entregar gratuitamente mercadorias e alimentação para os necessitados? Agora
mais essa! E Francisco teve que se esconder da fúria paterna. Certo dia saiu
resolutamente a mendigar o sustento de porta em porta na cidade de Assis.
Para Bernardone isso já era demais!
Como podia ele envergonhar de tal forma sua família? Se seu filho havia perdido
o juízo, era necessário encarcerá-lo! Assim, Francisco experimentou mais uma
vez o cativeiro, desta feita num escuro cubículo debaixo da escada da própria
casa paterna. Pelo que sabemos, depois de alguns dias, movida pela compaixão,
sua mãe abriu-lhe às escondidas a porta e o deixou partir livremente para
seguir o seu destino.
O Crucifixo de São Damião
Segundo o escritor Gianmaria Polidoro,
em “Francisco” (Vozes), entre os anos de 1205 e 1206, não sabemos qual de dois
grandes acontecimentos tenha tido a precedência na perturbação da calma
eremítica de Francisco, sempre pensativo quanto ao caminho a seguir. Não foi
através da meditação que descobriu a estrada certa. Encontrou-a diante de si no
exato momento em que se viu envolvido por duas extraordinárias experiências que
lhe abriram um horizonte excitante: o encontro com o leproso na planície de
Assis e a voz do Crucifixo que lhe falou em São Damião.
Em 1206, passeando a cavalo pelas
campinas de Assis, viu um leproso, que sempre lhe parecera um ser horripilante,
repugnante à vista e ao olfato, cuja presença sempre lhe havia causado
invencível nojo.
Mas, então, como que movido por uma
força superior, apeou do cavalo, e, colocando naquelas mãos sangrentas seu
dinheiro, aplicou ao leproso um beijo de amizade. Talvez a motivação para este
nobre e significativo gesto tenha sido a recordação daquela frase do Evangelho:
“Tudo o que fizerdes ao menor de meus irmãos, é a mim que o fazeis” (Mt 10,42).
Falando depois a respeito desse
momento, ele diz: “O que antes me era amargo, mudou-se então em doçura da alma
e do corpo. A partir desse momento, pude afastar-me do mundo e entregar-me a
Deus”.
Uma Decisão Corajosa
Ao final de 1206, Pedro Bernardone,
convencido de que nem as razões nem a força podiam torcer o ânimo de Francisco,
decidiu recorrer ao Bispo, instaurando-se um julgamento como nunca aconteceu na
história de outro santo. O palco do julgamento foi a própria Praça Comunal de
Assis, bem à vista de todos.
Bernardone exigiu que seu filho lhe
devolvesse tudo quanto recebera dele. Francisco, ciente da sentença de Cristo:
“Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim” (Mt
19,29), sem vacilar um momento se despojou de tudo até ficar nu, jogou os
trajes e o dinheiro aos pés de seu pai, e exclamou: “Até agora chamei de pai a
Pedro Bernardone. Doravante não terei outro pai, senão o Pai Celeste”.
O Bispo, então, o acolheu, envolvendo-o
com seu manto. Daquele momento em diante, cantando “Sou o arauto do Grande Rei,
Jesus Cristo”, afastou-se de sua família e de seus amigos e entregou-se ao
serviço dos leprosos, tratando de suas feridas, e à reconstrução das Capelas e
Oratórios que cercavam a cidade.
Cada dia percorria as ruas mendigando
seu pão e convidando as pessoas para que contribuíssem com pedras e trabalho na
restauração das “Casas de Deus” que estavam em ruínas.
Um Louco de Assis
De alguns recebia apoio e incentivo. De
muitos, o desprezo e a zombaria. No entender da maioria, o filho de Pedro
Bernardone havia perdido completamente o juízo! E não só a garotada da cidade
escarnecia dele, chamando-o de louco e outros qualificativos menos nobres.
Mais de uma vez sentiu-se tentado a
voltar atrás, quando chegava à porta de seus antigos amigos; mas saía vitorioso
nessas lutas entre o orgulho humano e o próprio ideal. Já alguns começaram a reconhecer
nele traços do futuro santo, embora ele mesmo ainda não conhecesse claramente
sua vocação.
Estava já terminando a restauração da
última Igrejinha da redondeza, a capelinha de Santa Maria dos Anjos (na foto
abaixo) e perguntava-se o que faria depois. O que mais lhe pediria Deus? Não
havia entendido ainda que a Igreja que devia restaurar não era a de pedra, mas
a própria Igreja de Cristo, enfraquecida na época pelas divisões, heresias e
pelo apego de seus líderes às riquezas e ao poder. Devia ser aquele o ano de
1209.
Certo dia, Francisco escutou, durante a
missa, a leitura do Evangelho: tratava-se da passagem em que Cristo instruía
seus Apóstolos sobre o modo de ir pelo mundo, “sem túnicas, sem bastão, sem
sandálias, sem provisões, sem dinheiro no bolso …” (Lc 9,3).
Tais palavras encontraram eco em seu
coração e foram para ele como intensa luz. E exclamou, cheio de alegria: “É
isso precisamente o que eu quero! É isso que desejo de todo o coração!” E sem
demora começou a viver, como o faria em toda a sua vida, a pura letra do
Evangelho. Repetia sempre para si e, mais tarde, também para seus companheiros:
“Nossa regra de vida é viver o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”!
Os Primeiros Seguidores
A partir daquele dia, Francisco iniciou
sua vida de pregador itinerante, percorrendo as localidades vizinhas e
pregando, em palavras simples, o Evangelho de Cristo.
Em documento algum consta que
Francisco, depois de ouvir o Evangelho na Porciúncula, tenha saído à procura de
seguidores. Não tinha a mínima intenção, nem mesmo a idéia, de inventar uma
comunidade.
Muitos começaram, enfim, a compreender
o sentido dessa vida e manifestaram o desejo de seguí-la. O primeiro foi um
homem rico de Assis, Bernardo de Quintaval.
Bernardo era uma pessoa sensível à voz
da consciência, mas também um homem muito prático. Inquietou-se com a vida de
Francisco; no entanto, antes de se pronunciar quis estudar o homem. Convidou-o
à sua casa com veneração e amizade; uma casa que, nas suas estruturas externas,
pode ser vista ainda hoje na rua que leva o seu nome: Rua Bernardo de
Quintavalle. Mais de uma vez convidou Francisco para visitá-lo. Depois dessas
visitas, teve a certeza de que o filho de Pedro de Bernardone não era louco nem
embusteiro.
Ao perguntar para Francisco: “O que
devo fazer para seguir-te”?, este decidiu, como em todos os momentos decisivos
de sua vida, recorrer ao Evangelho para que o próprio Cristo lhes desse a
resposta.
O Caminho do Evangelho
De manhã, bem cedo, foram ambos à
missa. Pelo caminho juntou-se aos dois Pedro de Catânia, doutor em Direito e
novo companheiro. Por três vezes abriram o livro do Evangelho, e as três
respostas que encontraram foram as seguintes:
“Se queres ser perfeito, vende o que
tens e dá-o aos pobres. Depois vem e segue-me” (Mt 19,21).
“Não leveis nada pelo caminho, nem
bastão, nem alforge, nem uma segunda túnica…” (Lc 9,3).
“Se alguém quer vir após mim, negue-se
a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me” (Mt 16,24).
“Isto é o que devemos fazer, e é o que
farão todos quantos quiserem vir conosco” – exclamou Francisco, que subitamente
viu brilhar uma luz sobre o caminho que ele e seus companheiros deveriam
seguir. Finalmente encontrou o que por tanto tempo havia procurado! Isto
aconteceu a 24 de fevereiro de 1208, dando início à fundação da Fraternidade
dos Irmãos Menores.
No mesmo dia, Bernardo de Quintaval
vendeu todos os seus bens e repartiu o dinheiro entre os pobres de Assis.
O Primeiro Sacerdote Franciscano
O exemplo de Bernardo produziu frutos.
O primeiro é o sacerdote Silvestre, que exclamou comovido: “Como posso eu,
sacerdote e velho, ser menos generoso que estes jovens e ricos?” E, sem mais, lançou-se
com eles na aventura de viver o Evangelho. Tornou-se, assim, o primeiro
sacerdote da Ordem Franciscana!
Prontamente aderiram outros: Gil, um
modesto lavrador que se tornaria um grande santo; Morico, dedicado ao serviço
dos leprosos; Bárbaro, futuro missionário no Oriente; Sabatino, Bernardo de
Viridiante, João de Constança, Ângelo, da ilustre família dos Tancredo,
aparentado com reis e príncipes; Felipe, grande pregador; e muitos outros…
Juntos, formaram um grupo de mendigos
voluntários (daí o adjetivo de Ordem Mendicante dado à Ordem Francicana), que
trabalhavam e rezavam, cantavam e pregavam, maravilhando o povo com a novidade
do Evangelho sendo vivido diante de seus próprios olhos. Algumas choupanas
cobertas de folhagem, no pitoresco vale do Rivotorto, serviam-lhes de modesto
abrigo.
A Aprovação da Igreja
No ano de 1209, Francisco e seus
seguidores viajaram até Roma para buscar a aprovação do Papa para o seu modo de
vida. Mas como aquele bando de mendigos, maltrapilhos e desconhecidos seria
recebido pelo severo Inocêncio III? Francisco rezava e confiava. Afinal, não
era o próprio Cristo que o estava conduzindo? Por coincidência ou providência
divina, encontrava-se em Roma, nessa ocasião, o Bispo de Assis, grande
admirador de Francisco. Graças a ele o Papa os recebeu.
Inocêncio III ficou maravilhado com o
propósito de vida daquele grupo e, especialmente, com a figura de Francisco, a
clareza de sua opção e a firmeza que demonstrava. Reconheceu nele o homem que
há pouco vira em sonho, segurando as colunas da Igreja de Latrão (a igreja-mãe
de todas as Igrejas do mundo!), que ameaçava ruir. O Papa reconheceu que era o
próprio Deus quem inspirava Francisco a viver radicalmente o Evangelho,
trazendo vida nova a toda a Igreja, naquele tempo tão distanciada dos
ensinamentos de Cristo! Por isso deu a seu modo de viver o Evangelho a
aprovação oficial da Igreja. Autorizou Francisco e seus seguidores a pregar o
Evangelho nas igrejas e fora delas e os despediu com sua bênção.
Em 1212, 18-19 de março, na noite de
domingos de Ramos, a nobre Clara di Favarone foge de casa e é recebida na
Porciúncula. Em 1217, no dia 5 de maio, realiza-se o Capítulo Geral de
Pentecostes na Porciúncula. Primeira missão para além dos Alpes e ultramarina.
É feita a instituição de províncias.
Em 1219, no outono (setembro-dezembro), Francisco vai ao acampamento do sultão
do Egito, Melek-el-Kamel (1218-38), e tem “entrevista”com ele.
O movimento franciscano cresce e Francisco entrega o governo da Ordem a Frei
Pedro Cattani em 1220.
Em 1224, no período de 15 de agosto a
29 de setembro, Francisco, com Frei Leão e Frei Rufino, passa no Alverne,
preparando-se com uma quaresma de oração e jejum para a festa de São Miguel Arcanjo.
Em setembro, tem a visão do Serafim alado e recebe os estigmas.
Seu estado de saúde piora muito a partir deste ano. Era final de agosto, em
1226, pede para ser levado à Porciúncula. Chegado à planície, lança sua bênção
sobre Assis. Nos últimos dias de vida, dita o Testamento, autotestemunho de
incalculável valor para a vida e os propósitos de homem tão singular.
No dia 3 de outubro, à tarde,
Francisco, morreu cantando “mortem suscepit”. No domingo seguinte, 4 de
outubro, é sepultado na igreja de São Jorge, na cidade de Assis, mas o cortejo
fúnebre passou antes pelo mosteiro das Clarissas. No dia 16 de julho de 1228,
Francisco foi canonizado.
via Franciscanos
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