“Derrubaram o avião do ministro”


Ainda afetados pela catástrofe que vitimou a maior parte do time da Chapecoense na Colômbia há pouco mais de um mês, os brasileiros já estão novamente às voltas com outro desastre aéreo, envolvendo agora a morte de cinco pessoas, entre as quais o ministro Teori Zavascki. Além da natural repercussão midiática pela relevância do cargo, o falecimento do ministro num episódio trágico adquire matizes particularmente sombrios por conta do seu papel como relator do processo da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal: a julgar pelos comentários nas redes sociais e pelas enquetes propostas em sites de notícias no mesmo dia do desastre, grande parte dos brasileiros acredita que Teori Zavascki foi assassinado.



A principal hipótese para a queda do avião, até o momento, é a de acidente causado pelas más condições do tempo em Paraty, mas a ideia de sabotagem teve, infelizmente, motivos suficientes para vir à tona de imediato entre os telespectadores do interminável novelão brasileiro. Os holofotes do país estão voltados há várias temporadas para um espetáculo de corrupção cujo roteiro ultrapassa os limites da verossimilhança e chega com excelência ao intrincado patamar da conspiração cinematográfica, no qual, de maneira ao mesmo tempo delirante e convincente, os vilões estão prontos para eliminar quaisquer obstáculos à sua impunidade, por mais poderosos que pareçam, apelando, entre outros expedientes, para a simulação de acasos e fatalidades sem culpados.

Mesmo que o desfecho deste episódio trágico seja o previsível (e plausível) diagnóstico de “simples acidente”, permanecerá atrás da orelha de milhões de brasileiros a mesma pulga que ali se instalou depois do acidente de avião que matou Eduardo Campos durante a campanha presidencial de 2014, ou depois da inesperada doença que se abateu sobre o presidente Tancredo Neves em plena véspera da posse e o levou à morte após semanas de suspense em 1985, ou depois do até hoje polêmico acidente de carro que matou Juscelino Kubitschek em 1976… Agora, porém, a pulga está muito mais resistente e saltitante, alimentada não só por especulações, mas por quilos e quilos de provas e demonstrações da existência de uma vasta e consolidada rede de criminalidade altamente organizada, tecida e mantida por poderosos empresários e representantes dos poderes públicos – no alvo, precisamente, da atuação do ministro.



Neste contexto, a possível demonstração de que o desastre que matou Teori Zavascki foi um “simples acidente” não terá força o bastante para se sobrepor aos apelos da teoria da conspiração. Afinal, a teoria da conspiração tem parecido muito mais realista do que o “mero acaso” aos olhos do telespectador da grande ficção em que a política brasileira foi transformada pelos seus próprios bastidores. 

Por Francisco Vêneto 


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