Uma série de áudios obtidos do celular de Padre Robson de Oliveira,
ex-reitor do Santuário do Pai Eterno e membro da Congregação dos Padres
Redentoristas, indicam uma conduta suspeita do sacerdote em corrupção,
organização criminosa e até mesmo pagamento de suborno a autoridades.
Os áudios constam em material apreendido em uma operação do Ministério
Público, em agosto do ano passado e foram exibidos este domingo, 21, no
programa televisivo ‘Fantástico’, da Rede Globo, contendo conversas gravadas
secretamente pelo próprio sacerdote. Os áudios passaram por perícia técnica
que comprova ser próprio o padre falando.
Padre Robson passou a ser investigado na Operação Vendilhões, deflagrada em
agosto de 2020, acusado de delitos de lavagem de dinheiro, apropriação
indébita e falsidade ideológica, todos eles cometidos na Associação dos
Filhos do Pai Eterno (Afipe), da qual era fundador e presidente.
Segundo investigadores, em dez anos, teriam sido movimentados 2 bilhões de
reais, e compras de patrimônios incondizentes com a natureza evangelizadora
da associação como fazendas, um avião e uma casa de praia.
Após as primeiras denúncias, o sacerdote redentorista, que até então era
reitor do Santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), e presidente da
Afipe se afastou das duas funções.
Em outubro, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás determinou
o arquivamento das denúncias contra Pe. Robson. Porém, em 4 de dezembro, o
presidente do Tribunal expediu uma decisão permitindo a retomada das
investigações.
Com isso, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) ofereceu novamente denúncia
contra Pe. Robson e outras 17 pessoas, por supostos ilícitos cometidos com
doações feitas à Afipe, em 7 de dezembro.
Entretanto, uma semana depois, o desembargador Leobino Valente Chaves
acatou um pedido da defesa do sacerdote e voltou a bloquear a investigação.
Na ocasião, considerou que a decisão de retomada da investigação competia ao
Superior Tribunal de Justiça e não à presidência da Corte estadual.
Posteriormente, em 18 de dezembro, uma sentença do STJ reforçou esta
decisão do desembargador. O ministro Nefi Cordeiro suspendeu o andamento da
ação penal contra Pe. Robson, considerando, entre outros fundamentos,
indícios de que o MP-GO teria usado provas obtidas por meios ilícitos.
Agora, com os novos áudios divulgados, o secretario de Segurança Pública de
Goiás, Rodney Miranda, disse em entrevista ao ‘Fantástico’ que se vê “com
clareza” que houve “obstrução de Justiça” no caso. “Nós estamos vendo
tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa”, afirmou
Miranda.
Em um dos áudios divulgados pelo programa no último domingo, o sacerdote
fala com o advogado Luís Barbosa sobre a situação de outro advogado,
Anderson Reiner Fernandes, que teria passado de um aliado para desafeto do
padre. “Se o Senhor pudesse matar ele pra mim, seria uma benção”, diz Pe.
Robson.
Outros áudios indicam que o sacerdote teria desembolsado milhares de reais
da Afipe em pagamento de extorsões. Um pagamento com dinheiro dos fiéis
teria sido destinado a um Hacker, que alegava possuir material comprometedor
sobre o padre.
Outro suposto caso de suborno pago com as doações citado na matéria da
Globo, teria sido o de Tyrone Di Martino, esposo de Talitta Di Martino,
quem, segundo o Fantástico “atualmente” ainda trabalha na associação, mas
que na verdade, deixou o grupo de funcionários em 2018.
“Supostamente, Robson teria pago R$ 350 mil ao marido dela, o jornalista
Tyrone Di Martino, com a justificativa de que ele ia escrever uma biografia
dele. Entretanto, um áudio do próprio padre desmente a contratação do
serviço”, diz o Portal de notícias G1, indicando que o sacerdote teria
comprado o silêncio de Tyrone em matérias comprometedoras e justificado a
saída do dinheiro com um contrato fraudulento de serviços.
Ainda de acordo com a reportagem, o material aponta para uma ligação entre
Pe. Robson e a delegada Renata Vieira, que acompanhava o caso de extorsão e
teria ajudado o sacerdote pedindo favores em contrapartida. Ao programa, ela
disse em nota que é amiga do sacerdote desde 2009, que presidiu investigação
de eventual crime de extorsão, em que o padre era a vítima, e que “obedeceu
as normas da lei”. Ela foi afastada e a delegacia está sob intervenção da
Secretaria de Segurança Pública de Goiás. Segundo o portal G1, a delegada
classificou como “absurda” a hipótese da troca de favores.
O secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda, afirmou que o caso
“parece até um grau de subordinação dessa delegada para o padre... ela
trabalhando para ele e obtendo favores dele por conta disso”. A Polícia
Civil e o Ministério Público pedem que o caso seja revisto à luz destas
evidências de que o Redentorista teria subornado agentes públicos e fora
indevidamente favorecido por magistrados.
Nesse sentido, os investigadores assinalaram ao Fantástico que o sacerdote
e seus advogados “tinham a porta aberta com alguns desembargadores do
Tribunal de Justiça de Goiás”, e apontam o pagamento de subornos em uma ação
sofrida pela Afipe por conta da compra de uma fazenda.
Por sua vez, a presidência do Tribunal disse desconhecer os fatos. “Não
foram utilizados os meios próprios para trazer ao Poder Judiciário
informações ou indícios de eventual conduta inadequada de magistrados para
regular apuração”, disse em nota ao programa.
Em seguida, acrescentou, “não se pode presumir a ocorrência de
irregularidades no julgamento de processos a partir de conversa mantida
entre advogado e cliente”.
Diante das denúncias apresentadas pela reportagem, a defesa de Padre Robson
de Oliveira afirmou em nota ao programa que “desconhece o conteúdo das
mensagens mencionadas”. “Mais uma vez, são frutos de montagens e
adulterações feitas por pessoas inescrupulosas que o extorquem há anos”,
declarou.
Ainda segundo a defesa do sacerdote, ele “está sofrendo perseguição de
políticos” e pede “para que lhe permitam seguir sua vida
religiosa em paz, sem que seja constantemente vitimado por injustiças e
falsas acusações”.
Em nota publicada nesta segunda-feira, 22, a Associação dos Filhos do Pai
Eterno (Afipe) afirma que “desconhecia os fatos contidos na matéria
veiculada no programa Fantástico da TV Globo, no domingo, 21 de fevereiro de
2021.
“Concretamente só pode dizer que a Sra. Talitta de Martino não faz parte do
grupo de funcionários da entidade desde outubro de 2018”.
“Do mesmo modo, reafirma que o ex-presidente não tem contato com a nova
Diretoria e que o novo reitor do Santuário de Trindade, desde setembro de
2020, é o Pe. João Paulo Santos de Souza”, conclui a nota da Associação
Filhos do Pai Eterno (Afipe).
Padre Robson encontra-se temporariamente afastado do uso de ordens desde
agosto de 2020 por decreto do Arcebispo metropolitano de Goiânia, Dom
Washington Cruz. A Congregação do Santíssimo Redentor (Redentoristas), à
qual pertence o sacerdote também o proibiu temporariamente de celebrar os sacramentos
e de realizar programas de rádio, TV ou internet, com a intenção de tentar
proteger a boa reputação da Igreja, do próprio padre e evitar escândalos.
via
ACI
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