“Cristo, depois de ter oferecido um sacrifício único pelos pecados, sentou-se para sempre à direita de Deus. Não lhe resta mais senão esperar até que seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés” (Hb 10,12-14).
A Ascensão do Senhor ao Céu é uma etapa essencial do plano divino da salvação da humanidade, e está estreitamente relacionada com a Sua Encarnação. Nesta, Ele veio para assumir a nossa natureza decaída pelo pecado original, que nos colocou sob o império da morte eterna e do domínio de Satanás. Jesus reconciliou a humanidade com Deus, “cancelando o documento de escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente ao encravá-lo na Cruz” (Col 2,14).
Na Ascensão, Jesus leva a humanidade com Ele de volta para o seio da Santíssima Trindade, redimida e resgatada. O homem foi criado para Deus, “para participar de sua vida bem aventurada” (Cf. CIC,§1); o pecado o separou de Deus, mas Jesus o trouxe novamente para o Criador. Agora, disse São Paulo aos colossenses, estamos ressuscitados com Cristo: “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Col 3,1).
A última aparição de Jesus termina com a entrada definitiva de sua humanidade na glória divina, simbolizada pela nuvem e pelo céu onde já está desde agora sentado à direita de Deus (cf. Mc 9). Para Santo Agostinho: “O Senhor não deixou o céu quando de lá desceu até nós; também não se afastou de nós quando subiu novamente ao céu… Desceu do céu por sua misericórdia e ninguém mais subiu senão Ele; mas nele, pela graça, também nós subimos.”
Por isso, a Igreja canta neste dia: “Ó imensa alegria de todos, quando o Filho que a Virgem gerou, logo após o flagelo e a cruz, à direita do Pai se assentou”. E reza: “Ó Deus todo-poderoso, a Ascensão do vosso Filho já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros de seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória” (Liturgia das Horas).
Também devemos nos atentar ao que o Catecismo ensina: “Entregue a suas forças naturais, a humanidade não tem acesso à “Casa do Pai” à vida e à felicidade de Deus. Só Cristo pôde abrir esta porta ao homem, “de sorte que nós, seus membros, tenhamos a esperança de encontrá-lo lá onde Ele, nossa cabeça e nosso princípio, nos precedeu” (CIC,§ 661). Ou seja, Jesus é a ponte entre o Céu e a Terra. Ele é o caminho que nos levará de volta ao Paraíso.
Jesus disse: “E, quando eu for elevado da terra, atrairei todos os homens a mim” (Jo 12,32). Pois bem, a elevação na Cruz significa e anuncia a elevação ao céu: a Ascensão. Assim, voltamos a participar da vida divina como é o plano de Deus para nós. Ainda estamos na terra, mas pela fé já participamos das realidades do céu. Vivemos como ressuscitados com Cristo; e, embora ainda na terra, temos a comunhão com Deus. Por isso, o Apóstolo pede que vivamos uma vida nova: “Afeiçoa-vos às coisas lá de cima e não as da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Col 3,2). Pelo batismo morremos com Cristo e ressuscitamos com Ele (cf. Rom 6,3-4).
Cristo subiu entre as nuvens do Céu, e o abriu para nós, já que a Redenção estava realizada. Mas não nos abandonou. Sua presença visível desapareceu para que Ele começasse a agir de modo novo, pelo Espírito Santo que derramaria sobre a Igreja dez dias depois em Pentecostes. Ele disse claro antes de partir: “Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20). Esta é a garantia da Igreja não errar o seu caminho nesses dois mil anos e de nunca ter sido vencida, embora perseguida, massacrada e martirizada. E ela continua a missão de Cristo. Por meio dela Jesus leva a salvação até o fim do mundo, pela ação dos sacramentos e dos sacramentais. Quando a Igreja nos toca é Cristo que nos toca.
Ele disse aos Apóstolos: “Vós sois a testemunha de tudo isso. Eu vos mandarei o Prometido de meu Pai; entretanto permanecei na cidade até que sejais revestidos com o poder do Alto” (Lc 24,48-49). Jesus já tinha lhes avisado: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5).
Jesus nos precede no Reino glorioso do Pai para que nós, membros de seu Corpo, vivamos na esperança de estarmos um dia eternamente com Ele. Ele é o Único Sacerdote da nova e eterna Aliança, não “entrou em um santuário feito por mão de homem… e sim no próprio céu, a fim de comparecer agora diante da face de Deus a nosso favor” (Hb 9,24).
Cristo “sentado à direita do Pai” significa a inauguração do Reino de Deus, como viu o profeta Daniel sobre o Filho do Homem: “A Ele foram outorgados o império, a honra e o reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. Seu império é um império eterno que jamais passará, e seu reino jamais será destruído” (Dn 7,14). A partir desse momento, os apóstolos se tomaram as testemunhas do “Reino que não terá fim”. E nós também.
Prof. Felipe Aquino
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