Pessoa cega que voltou a enxergar é o segundo milagre atribuído à Irmã Dulce

Irmã Dulce

Matéria de 2019: Uma pessoa cega que voltou a enxergar. Esse foi o milagre reconhecido pelo Vaticano atribuído a Irmã Dulce, que a transformará na primeira santa genuinamente brasileira. 



A informação do tipo do milagre reconhecido foi confirmada ao CORREIO, com exclusividade, na manhã desta terça-feira (14) pelo arcebispo primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger. Hoje, 14 de maio, o Vaticano publicou decreto que reconhece o milagre.



“É uma notícia para lavar a alma. Houve um milagre de uma pessoa que era cega que de uma noite para o dia seguinte começou a ver depois da intercessão da Beata Bem Aventurada Irmã Dulce dos Pobres. Não vou poder entrar nos detalhes sobre o milagre porque ainda não fui autorizado”, explica Dom Murilo. Por ordem do Vaticano não foi informado sexo, idade nem local de moradia da pessoa chamada miraculada (nome dado àquela pessoa que foi alvo de um milagre). 

Religiosa da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, a Beata Irmã Dulce nasceu em Salvador em 26 de maio de 1914 e ali faleceu em 22 de maio de 1992. Irmã Dulce foi beatificada em 22 de maio de 2011 e com este decreto será proclamada Santa proximamente em solene celebração de canonizações.

O processo da causa da Canonização de Irmã Dulce foi iniciado em janeiro de 2000. Um tribunal eclesiástico – formados por médicos , cientistas e religiosos – analisou a graça e identificou o milagre. “Esse milagre foi estudado no Brasil pelos médicos, foi encaminhado para Roma (Itália) e passa por uma comissão severa de avaliação para ver se realmente há fundamento na concepção que foi um milagre. É uma comissão muito severa e os médicos não precisam ser católicos. Passando por essa etapa o milagre passa por uma avaliação dos cardeais que em seguida apresentam o fato ao papa. Foi essa etapa que aconteceu ontem e o papa mandou que fosse publicado o decreto como milagre”, argumenta Dom Murilo.

A data da canonização deverá ser definida em julho pelo papa Francisco. “É a primeira santa brasileira. Nós temos a santa paulina em Santa Catarina, mas ela veio para o Brasil com 9 anos da Itália. Vejo que Irmã Dulce nos mostra quando a pessoa age por amor”, diz o arcebispo.

Entenda o caminho para Irmã Dulce virar santa

A causa da canonização – nome do processo da Igreja Católica para tornar alguem santo – de Irmã Dulce foi iniciada em janeiro de 2000. Com o início do processo, seus restos mortais, que desde 1992 (ano de seu falecimento) estavam na Igreja da Conceição da Praia, foram então transferidos para a Capela do Convento Santo Antônio, na sede das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), também em Salvador.

A validação jurídica do virtual milagre presente no processo foi emitida pela Santa Sé em junho de 2003 – esse fato foi o primeiro passo. Já em abril de 2009, o Papa Bento XVI reconheceu as virtudes heróicas de Dulce e lhe atribuiu da Serva de Deus Dulce Lopes Pontes, autorizando oficialmente a concessão do título de Venerável à freira baiana. O título foi o reconhecimento de que Irmã Dulce viveu, em grau heróico, as virtudes cristãs da Fé, Esperança e Caridade.

O voto favorável e unânime da Congregação para a Causa dos Santos, que levou ao título de Venerável, havia sido concedido em 2008 e anunciado em janeiro de 2009 pelo colégio de cardeais, bispos e teólogos após a análise da Positio – documento canônico misto de relato biográfico e das virtudes e resumo dos testemunhos do processo. Os teólogos que estudaram a vida e as obras de Irmã Dulce a definiram como a “Madre Teresa do Brasil”, pelas semelhanças do seu testemunho cristão com a Beata de Calcutá, sendo “um conforto para os pobres e um exame de consciência para os ricos”.

No dia 9 de junho de 2010 é realizada a exumação e transferência das relíquias (termo utilizado para designar o corpo ou parte do corpo dos beatos ou santos) da Venerável Dulce para sua capela definitiva, localizada na Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, situada ao lado da sede da OSID. A Capela das Relíquias foi construída na própria Igreja da Imaculada Conceição, erguida no local do antigo Cine Roma e do Círculo Operário da Bahia, construídos pela freira na década de 40.

Em outubro de 2010, a Congregação para a Causa dos Santos, através de voto favorável e unânime de seu colégio de cardeais e bispos, reconheceu a autenticidade de um milagre atribuído à Irmã Dulce, cumprindo, dessa forma, a penúltima etapa do processo de Canonização: estágio que levaria à beatificação da religiosa no ano seguinte. O anúncio foi feito no dia 27 de outubro de 2010 pelo então Arcebispo Primaz do Brasil, cardeal D. Geraldo Majella Agnelo, em coletiva realizada na sede das Obras Sociais Irmã Dulce, em Salvador.

O referido milagre ocorreu na cidade de Itabaiana, em Sergipe, quando, após dar à luz a seu segundo filho, Gabriel, Claudia Cristina dos Santos sofreu uma forte hemorragia, durante 18 horas, tendo sido submetida a três cirurgias na Maternidade São José. Diante da gravidade do quadro, o obstetra Antônio Cardoso avisou a família que apenas “uma ajuda divina” poderia salvar a vida de Cláudia. Em desespero, a família da miraculada chamou o padre José Almí para ministrar a unção dos enfermos. O padre, no entanto, decidiu fazer uma corrente de oração pedindo a intercessão de Irmã Dulce e deu a Cláudia uma pequena relíquia da Bem-Aventurada. A hemorragia cessou subitamente.

O caso de Cláudia foi analisado por dez peritos médicos brasileiros e seis italianos. Segundo o médico Sandro Barral, um dos integrantes da comissão científica que analisou o milagre, “ninguém conseguiu explicar o porquê daquela melhora, de forma tão rápida, numa condição tão adversa”. O milagre passou por três etapas de avaliação: uma reunião com peritos médicos (que deram o aval científico), com teólogos, e, finalmente, a aprovação final do colégio cardinalício, tendo sua autenticidade reconhecida de forma unânime em todos os estágios.

Já no dia 10 de dezembro de 2010, o Papa Bento XVI autoriza então a promulgação do decreto do milagre que transformava a Venerável Dulce em Beata, ou Bem-Aventurada. A autorização foi dada pelo pontífice ao prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato, em audiência privada no Vaticano.

Com o reconhecimento final do Papa, abriu-se caminho então para a realização da Cerimônia de Beatificação de Irmã Dulce, evento ocorrido no dia 22 de maio de 2011, em Salvador. Na ocasião, a freira baiana passou a ser reconhecida com o título de “Bem-Aventurada Dulce dos Pobres”, tendo o dia 13 de agosto como data oficial de celebração de sua festa litúrgica.

A etapa final do processo final de Canonização teve início em dezembro de 2010, a partir do decreto papal. Para a canonização foi necessária a aprovação de um novo milagre atribuído à intercessão da beata. Contudo, essa nova graça, para ser analisada pelo Vaticano como potencial milagre de sua santificação ou canonização, precisou ter ocorrido após o dia 11 de dezembro de 2010 – data da promulgação do decreto papal sobre o primeiro milagre. No momento da canonização, o Santo Padre, em virtude da sua infalibilidade, declara que o beato está entre os santos do céu e inscreve seu nome na lista oficial (cânon) dos Santos da Igreja.

Uma vida de fé

Segunda filha mulher do casal Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes e do cirurgião dentista Augusto Lopes Pontes, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, nascida na capital baiana em 26 de maio de 1914, iniciou a vida na caridade ainda na infância. Aos 12 anos, acompanhada da tia Madalena, foi pela primeira vez numa favela onde despertou o desejo de ajudar os necessitados. 

Dos cinco filhos que o casal, a menina Maria Rita era a mais dedicada à religião. 

Para a Mariinha, como era chamada, Santo Antônio era seu maior protetor. Ficou órfã de mãe quando tinha apenas 7 anos. Logo depois, perdera também sua irmã Regina, recém-nascida, que não resistiu à falta do leite materno e não podia tomar leite artificial. Passou sua infância ao lado dos seus irmãos – Augusto, Dulce, Aloysio e Geraldo e de seu pai, que contou com a ajuda das irmãs –Madaleninha, Georgina e Mariazinha – para educar os filhos enquanto trabalhava. 

A família morava em um sobrado, em cima do armazém Porto Rico, na Rua Quitandinha Capim, no bairro de Santo Antônio, em Salvador. O despertar pela caridade da menina Maria Rita surgiu muito jovem. Escondida do pai, ela auxiliava doentes na porta da casa da família. Cuidava de ferimentos, doava comida. 

“Dava banho na garotada e dava comida a todos. Conseguia ainda, com a vizinhança, roupas usadas, remédios e alguns trocados para aqueles miseráveis”, relata Maria Rita Lopes Pontes, sobrinha da religiosa baiana.

Vocação

Ainda quando era adolescente, por volta dos 14 anos, tentou entrar para o convento, mas foi impedida pelo pai, em função da pouca idade. Maria Rita dava sempre indícios de que tinha a religião como motriz de sua vida. Enquanto sua irmã Dulcinha, por exemplo, brincava e cuidava da aparência física, ela preferia rezar e dar atenção aos mais necessitados. A menina Maria Rita era torcedora do Esporte Clube Ypiranga, time formado pela classe trabalhadora e excluídos sociais, coisa rara para a elite do futebol do século XX. 

Maria Rita estudava na Escola Nacional da Bahia, mas, diariamente, fugia de casa para ir à Igreja de Santana, no bairro de Nazaré, para assistir à missa. Apesar da vocação, o pai obrigou a menina a estudar, se formar professora, título que na época era possível para poucas pessoas. Na semana de sua formatura, seu pai lembrou que teria que comprar um anel para a cerimônia de colação de grau – afinal, era a primeira filha mulher que se formava – e chamou-a para ir ate o centro da cidade para escolherem juntos o modelo do anel que mais lhe agradaria. Mariinha recusou a joia e disse que só lhe interessaria ser freira. 

Era dia 9 de dezembro de 1932 quando Maria Rita recebeu seu diploma de professora – sem anel nem festa. Como o desejo de se tornar freira para ajudar os necessitados era o maior da vida da menina, no dia 9 de fevereiro de 1933, Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe. 

Na bagagem para o convento, além do desejo de viver para a caridade, Maria Rita levou sua boneca, Celica, que ganhou da avó quando tinha 4 anos de idade em troca de tomar um remédio que ela não queria. Durante os seis meses de postulado – preparação para ser freira – Celica foi a companhia dominical das brincadeiras de Maria Rita. 

Em carta enviada a sua irmã Dulcinha, em 26 de novembro de 1933, a então noviça Maria Rita demonstra a gênese do seu amor religioso. Assim como outros indivíduos que se tornaram santos, Irmã Dulce também teve alguns momentos de dúvidas sobre a sua vocação. Irmã Dulce cita a vida da santa francesa Santa Margarida Maria, que tentou ser freira várias vezes, mas depois se arrefecia. 

Margarida Maria Alacoque nasceu em 22 de agosto de 1647. Aos 8 anos, perdeu o pai e, logo em seguida, a irmã. Sofreu ao cuidar da mãe adoentada. Em seguida, foi acometida por uma grave doença durante quatro anos. Foi quando, milagrosamente, a doença regrediu até a cura e, por este motivo, consagrou-se à Virgem Maria, prometendo entrar no serviço religioso. Santa Maria Margarida Alacoque morreu jovem, aos 43 anos, em 17 de outubro de 1690, e foi canonizada em 1920 pelo papa Bento XV. 

No dia 15 de agosto de 1933 aconteceu a cerimônia de vestição, presidida pelo frei João Baptista e frei Vicente, e Maria Rita se transformou em Irmã Dulce, nome que adotou em homenagem a sua falecida mãe. 

A solenidade de assunção, onde Irmã Dulce recebeu as vestes de freira, aconteceu no mesmo dia que se comemorava o 25º aniversário da cura na gruta de Lourdes da Madre, que foi a fundadora da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Dessa forma, a entrada no noviciado de Irmã Dulce tornou-se ainda mais especial. Um ano depois, Irmã Dulce fez sua profissão de fé religiosa, ou seja, podia agora sair do convento e seguir em missão humanitária em algum lugar do mundo. 

Por sorte, ou “por intercessão divina”, como ela costumava dizer, ao contrário da rotina de enviar as jovens noviças para outros estados e países diferentes dos seus de origem, Irmã Dulce foi enviada para sua terra natal para estagiar no Sanatório Espanhol, em Salvador, onde ajudava na limpeza e atendia telefone. 

Com o intuito de servir melhor aos seus próprios doentes, ela fez o curso de Prática de Farmácia, na Farmácia Galdino, onde aprendeu a manipular receitas de remédios. Um ano depois, prestou exame na Secretaria de Educação e Saúde do Estado e fez dissertação sobre o tema Cápsulas e Comprimidos. Terminando o estágio no Sanatório Espanhol, Irmã Dulce passou a lecionar Geografia para as crianças no Colégio Santa Bernadete, do Convento da Penha, onde estava sediada sua congregação religiosa. A partir daí Irmã Dulce não parou mais na sua missão de amar e servir.

1914
26 de maio – Nasceu Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, à rua São José de Baixo, 36, no bairro do Barbalho.

1932
Se formou professora pela Escola Normal da Bahia (ICEIA Atual).

1933
Ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.

1936
Fundou com os operários Ramiro Mendonça, Nicanor Santana e Jorge Machado, a União Operária São Francisco, Primeira Organização Operária Católica da Bahia.

1949
Ocupou o galinheiro ao lado do Convento, que depois virou hospital Santo Antônio

1988
O então Presidente da República José Sarney, indicou Irmã Dulce para o prêmio Nobel da Paz, com o Apoio da Rainha Sílvia da Suécia.

1992
No dia 13 de março, morre aos 77 anos

1999
Foi iniciado seu processo de canonização

2010
O Papa Bento XVI autoriza a promulgação do decreto que torna Irmã Dulce em Venerável.

2011
Torna-se beata da Igreja Católica como rótulo de Bem-Aventurada Dulce dos Pobres após lhe ser atribuído a cura milagrosa de uma mulher.

2019
Vaticano reconhece novo milagre e Irmã Dulce será considerada santa.





via Correio Brasiliense

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