Devo cantar ‘como coisa’ ou ‘como filho’ na Consagração a Nossa Senhora?


Nos dias atuais, ainda nos deparamos com pessoas que possuem a seguinte dúvida: “Cantamos ‘como coisa’ ou ‘como filho’ na Oração de Consagração a Nossa Senhora?”. E, para poder tirar a minha dúvida e talvez a de muitos, resolvi fazer uma pesquisa sobre o assunto e descobri fatos chaves e importantes que poderão auxiliar a todos.


A oração de Consagração à Nossa Senhora no original em Latim é:

“O DOMINA mea! O Mater mea! Tibi me totum offero, atque, ut me tibi probem devotum, consecro tibi [hodie*] oculos meos, aures meas, os meum, cor meum, plane me totum. Quoniam itaque tuus sum, o bona Mater, serva me, defende me ut rem ac possessionem tuam. Amen”. Preces Latinae


Ao pé da letra seria mais ou menos assim:

“Ó Senhora minha! Ó Mãe minha! A vós todo me ofereço, e, para provar que vos sou devoto, consagro-vos hoje meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração, eu todo inteiramente. E porque sou vosso, ó boa Mãe, guardai-me, defendei-me como coisa e propriedade vossa. Amém”.

Observação: REM é o substantivo feminino latino RES no caso acusativo. E pode significar coisa, evento, negócio, assunto, propriedade, fato. Na oração, portanto, a tradução COISA é correta.

É engraçado o quanto queremos ganhar espaço. Ninguém quer ser tratado como coisa. O próprio Jesus que poderia ter se declarado rei e pedir tratamento especial, se colocou pequeno e como servo. Nós fazemos justamente o contrário. Somos apenas coisa e já nos colocamos como filhos “exigindo” nossos direitos, nossa herança.

Confesso que eu não compreendia essa parte da oração. Eu queria ser tratado como filho de Nossa Senhora e não como coisa. Até que um dia me contaram que a mãe de um amigo sempre ensinou a ele que essa oração havia sido feita pelo coração puro e simples de uma criança. Desse modo, só é possível vivermos essa oração com o coração semelhante ao de uma criança.

“Coisa” é um objeto que o dono coloca onde quer e faz o que quer com ele. O objeto fica ali estático, aguardando o proprietário decidir o que fará. Já o filho não. Já o filho, quando criança, precisa e quer o colo da mãe. A medida que cresce, tem momentos de desobediência, de querer fazer seus desejos, até o dia em que se torna adulto, sai de casa e realiza suas próprias vontades. Passa a ser o “dono do seu nariz”.

Um pouquinho de história: como surgiu o Canto e a Oração de Consagração.

As citações a seguir foram retiradas do livro “Viver da Fé”, escrito por Pe. Kentenich. Essa oração é atribuída a um Padre Jesuíta, chamado Zuchi. Aos dez anos de idade, perdeu sua mãe. Levado por profundo impulso religioso raciocinou nestes termos: “Não tenho mais mãe terrena. Que farei? Sem mãe não poderei viver. Consagrar-me-ei por isso a mãe de Deus, far-me-ei total e inteiramente dependente dela. Compôs a oraçãozinha, escrevendo-a com sangue, é a oraçãozinha conhecida por todos”.

Com idade avançada, Padre Zuchi, antes de morrer, colocou o ponto final em sua consagração, confessando solenemente o seguinte:

“Esforcei-me para viver esta consagração e com suma gratidão, tenho de testemunhar frente à mãe de Deus, ter-me Ela livrado, durante toda a vida do pecado grave. Ela de fato agiu comigo como sua possessão e propriedade. Agora posso partir para a felicidade eterna para contemplá-la e nela ser propriedade de Deus eterno por toda a eternidade”.

Como se pode perceber, Pe. Zucchi se consagrou a Nossa Senhora de tal forma que ele se tornou sua propriedade. Pesquisando no dicionário a palavra propriedade, um dos sentidos encontrados é “o direito pelo qual uma coisa pertence a alguém”. Por sua vez, coisa é algo de que se tem a posse. Aos se declarar de propriedade de Nossa Senhora, Pe. Zucchi assume a condição de coisa. Ora, filhos de Deus e de Nossa Senhora, todos nós somos, sem necessidade alguma de consagração especial para isso.

Com tudo isso, o sentido de ser coisa, presente na oração, está correto. Assim, não há motivo ou justificativa para adulterar a oração original. O filho, por mais que ame seus pais, é sempre livre para discordar com eles e de fazer por si mesmo suas ações. Quando nos colocamos nas mãos de Deus e de Maria como coisa e propriedade, abrimos mão desse direito de liberdade para sermos instrumentos, coisas das quais Deus e Maria podem usar como lhes bem aprouver para a santificação e conversão do mundo.

Assim, nos colocamos como instrumentos nas mãos de Maria para colaborar com Ela no plano de salvação de seu Divino Filho. Não deixamos, com isso, de sermos Filhos de Deus e de Maria, mas doamo-nos de modo pleno a Eles para sermos usados como instrumentos.

Vendo desta forma, você escolhe ser COISA ou FILHO de Nossa Senhora?

Eu quero ser COISA e, para tanto, procedo a seguinte oração:

“Prudentíssima Mãe, queremos ser coisa e propriedade Vossa! Queremos que você interceda e decida junto a Jesus o rumo das nossas vidas e nos ensine a fazer não nossas vontades, mas, a Santa Vontade de seu Filho. Amém”.

Fontes:
Daniele Cadête – Consagrada da Comunidade Obra de Maria – Missão Brasília – DF
Luiz Augusto – membor da ARS – Associação Redemptionis Sacramentum
Pe. Carlos Cesar Candido – Santuário Diocesano Nossa Senhora Aparecida – Campo Mourão – PR
Livro Viver da Fé – Pe. Kentenich

Por Jair Ortega – Grupo de Oração e PASCOM – NSLP

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