O evangelho de São Mateus nos diz que José, depois da aparição do Anjo, fez o que lhe tinha sido prescrito: recebeu Maria em sua casa. O que provavelmente quer dizer que, enquanto estiveram unidos apenas pelos esponsais, o costume ainda não lhe concedia o direito de admiti-la em sua casa; e que, portanto, ambos se apressaram a ratificar pela cerimônia do casamento a união que tinham contraído.
Conhecemos com bastante precisão como se desenrolavam as cerimônias nupciais nessa época entre os judeus. É evidente que Maria e José, respeitosos como eram dos menores detalhes da lei, tiveram o cuidado de observar exatamente o que os ritos e os costumes tradicionais prescreviam quanto à cerimônia. Maria certamente usou as vestes tradicionais: uma túnica de cores variadas, sobre a qual caía um amplo manto que a cobria da cabeça aos pés; debaixo do véu, sobre o cabelo cuidadosamente penteado, uma coroa de flores e folhas douradas.
Ao cair da noite, deixou-se conduzir à casa de José. Os convidados à boda, vestidos de branco e com um anel de ouro no dedo, escoltavam a liteira; um grupo de donzelas precedia a noiva, cada uma segurando uma lâmpada acesa, enquanto outras balançavam ramos de murta sobre a sua cabeça. Os habitantes de Nazaré, alertados pelo som das flautas e dos tambores, acotovelavam-se curiosamente nos terraços e nos dois lados da rua a fim de verem passar o cortejo e aplaudirem a desposada. Ainda não suspeitavam que era a eleita de Deus, que no seu seio se formava o Messias, objeto de todos os desejos e esperanças da nação.
José esperava Maria à porta de casa, também vestido de branco e coroado de brocado de ouro. Depois de terem sido conduzidos um à presença do outro e terem trocado o anel, ambos se sentaram debaixo de um dossel voltado para Jerusalém, espécie de nicho ricamente preparado com ornamentos dourados e estofos pintados. Maria tomou o lugar à direita de José. Voltaram a ouvir o contrato que se tinha estabelecido por ocasião dos esponsais. Depois, beberam do mesmo copo que, a seguir, foi despedaçado diante deles: o gesto significava que eles deviam estar dispostos a partilhar tanto as alegrias quanto as penas.
O banquete de núpcias deve ter tido lugar na hospedaria de Nazaré; as alegres e festivas comemorações se prolongaram, segundo o costume, durante vários dias.
A partir desse momento, José e Maria pertenciam definitivamente um ao outro. Estavam unidos diante de Deus e diante dos homens. É verdade que Maria tinha sido reservada por Deus para Si, mas fora Vontade desse mesmo Deus dar a um homem mortal, José, o direito de esposo sobre essa criatura privilegiada, bendita entre todas as mulheres. A partir desse momento, Deus lhe colocava entre as mãos aquela que Ele tinha criado com tanto amor, em quem tinha pensado desde toda a eternidade, a quem tinha feito Sua com tanto zelo.
Entre os dois esposos não se estabeleceu nenhum clima de “casamento por conveniência” ou desacordo; era uma união perfeita. É verdade que Maria estava em um grau de santidade mais alto que São José; ele, porém, tinha ouvido do Anjo palavras muito tranquilizadoras: “Não temas receber em tua casa Maria como tua esposa“.
Ao significado dessas palavras podemos acrescentar este outro: “Anima-te. Tu és o homem escolhido por Deus para esposo daquela que acaba de conceber por obra do Espírito Santo. Estarás à altura da tua missão. Ser esposo da Mãe de Deus seria uma função esmagadora para as forças humanas, mas o que é impossível para o homem é possível para Deus: e tu hás de receber as graças necessárias“.
José e Maria são, pois, marido e mulher, sem que esses títulos nada tenham de fictício. Pelo contrário, nunca a terra viu um par de almas, chamadas a viver em comum, unidas num amor tão autêntico. Amam-se em Deus em primeiro lugar e antes de mais nada; é sob a inspiração do Espírito Santo que os seus corações palpitam, com ternura recíproca. A única preocupação que têm é a de fazerem sempre e em tudo a Vontade do Deus três vezes Santo. Esta é a inspiração fundamental que os anima: as suas almas se unem na mútua adoração do seu Mestre divino, e o amor pelo Altíssimo é o alicerce da sua aliança.
E é precisamente nisto que reside a força e a beleza do seu matrimônio. Diz São Paulo, na Epístola aos Romanos (8,38): “Porque eu estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem as coisas presentes, nem as futuras, nem a força, nem a altura, nem a profundidade, nem nenhuma outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Jesus Cristo, nosso Senhor“. É um clamor semelhante a este o que a cada instante faz vibrar o coração de Maria e de José. Assim como o Amor divino é incorruptível, dizem eles um ao outro, assim também o nosso amor é invencível, pois sua força se alimenta de Deus. Eles se dedicam a fazer a vontade um do outro, tanto mais que a sua mútua complacência, longe de os distrair de Deus, não faz outra coisa senão ajudá-los a unir-se ainda mais a Ele.
Desde a primeira troca de promessas fora assim. A partir daquele momento, José não tinha imaginado que o seu amor por Maria pudesse crescer ainda mais. Depois da revelação do Anjo, porém, ela se tornou ainda mais querida para ele e a força do seu amor redobrou, a ponto de agora sentir-se um homem novo. As perfeições de Maria aumentaram pelo fato de a Criança que trazia no seio ser o Deus das promessas, para o qual tinha dirigido todas as suas aspirações. José a olhava e venerava como a uma nova Arca da Aliança, o tabernáculo do Santo dos Santos.
Maria, por sua vez, sentia-se diante de José como diante do representante da autoridade de Deus sobre ela e sobre seu Filho; diante daquele que fora escolhido para ser o coadjutor de Deus no mistério da Encarnação. Por isso, consagrava-lhe uma afeição feita de deferência e de terna e afetuosa submissão. É verdade que tanto um como o outro tinham feito uma promessa de virgindade, mas era justamente isso o que tornava mais estreita a sua união. Foi precisamente porque o amor entre os dois era virginal e a carne não tinha qualquer parte nele que estiveram ao abrigo dos caprichos, das inquietações, das amarguras e das decepções. Exatamente porque são virgens, seus corações ignoram aquilo que São Paulo designa por tribulações da carne (1 Cor 7, 28); e, santos de corpo e de espírito, amam-se com amor sempre capaz de crescer e enriquecer-se: “Ó santa virgindade“, escreve Bossuet, “as vossas chamas são tanto mais fortes quanto mais puras e desprendidas, e o fogo da concupiscência que arde no nosso corpo nunca pode igualar o ardor dos castos abraços entre os espíritos unidos pelo amor à pureza“.
Por outro lado, seria errado imaginar que a união entre Maria e José fosse de ordem estritamente espiritual, que não houvesse nada de sensível no seu afeto mútuo. Não temos nenhum motivo para pensar que não manifestassem um ao outro essa terna afeição que faz palpitar o coração, essa doçura de amor que ilumina o coração dos esposos.
Pressentiria José que Maria, em virtude da sua missão, seria um dia chamada pelo mundo “causa de nossa alegria”? Seja como for, a partir do momento em que a instala em sua casa, para viver junto dela uma vida comum que só a morte poderá interromper, Maria passa a ser para ele uma fonte permanente de transbordante alegria. Enquanto a rodeia desses cuidados e dessas delicadezas que constituirão para ela um verdadeiro tesouro de pensamentos e de recordações, cuidadosamente guardado no seu coração, Maria, por seu lado, comporta-se como uma esposa amorosa e terna, de dedicação pronta e alegre. Há entre eles maravilhosas disputas para ver qual dos dois deve servir mais ao outro: “Eu sou tua serva“, diz Maria; e José responde: “Não, eu é que fui designado por Deus para te servir“.
E, no dia-a-dia do jovem casal, Maria cose e borda as roupas e José aparelha e trabalha o berço onde, em breve, repousará o Filho do Altíssimo, o Rei do Universo, o Salvador do mundo.
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Michel Gasnier, em extrato do livro “José, o Silencioso”.
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