A mulher cuja vida era ensinar e cuja morte foi uma lição sublime: que este Dia da Padroeira traga bálsamo às famílias dilaceradas há uma semana.
Completa-se, neste dia 12, uma semana. Escuridão, vazio. Imponderável. Uma luz suave, no entanto, insiste em brilhar com sutileza nas dezenas de fotos e vídeos breves que as redes sociais espalham desde 5 de outubro, o dia do abominável, do absurdo.
São imagens de sorrisos, de bracinhos abraçando, de mãozinhas irrequietas, intrometidas, carinhosas; de olhinhos ingênuos e marotos que não se aguentam de curiosidade. Fotos de crianças bagunceiras, inocentes, vigorosamente frágeis no auge da força da vida que foi arrancada de repente e com estupidez boçal, com selvageria demente, e cuja lembrança tanto arranca quanto devolve os pedaços de quem ficou.
Há fotos também da Helley. A professora. A heroína. A mulher valente que sacrificou a vida para salvar o máximo que pudesse de crianças da covardia e da insanidade assassina. A mulher cuja vida era ensinar e cuja morte foi uma lição sublime.
Enquanto nove anjos foram arrancados de seus pais, um anjo foi arrancado de seus filhos – Helley deixa um bebê de um ano e dois adolescentes. Ao filho mais velho, porém, ela foi se reunir: àquele que, ainda pequeno, tinha morrido afogado na piscina de um clube. Sim, o coração de Helley já conhecia a dor dilacerante de um filho arrancado por uma tragédia, e, ainda assim, ela arrancou forças de onde não tinhapara seguir em frente – porque ainda havia história para protagonizar; ainda havia lição de casa para aprender e para explicar aos outros aprendizes, àqueles tantos e tantos de nós que anseiam por mestres não apenas contadores de histórias, mas fazedores da história. A dela, do meio da escuridão, refulge como um roteiro para os que hesitam em seguir em frente; como um convite para aqueles que não têm de onde arrancar mais forças: “Arranquem forças de onde não têm. Há vida que nos espera, e, pela vida, encaremos, se necessário, a própria morte“. Entre tantos absurdos, o maior de todos, afinal, é inexplicavelmente pródigo em sentido: a vida do próximo pode ser a força de que precisamos para arrancar vida da nossa própria morte.
Helley, que tinha dois primos sacerdotes e um filho coroinha, dava catequese: preparava casais para o sacramento do Matrimônio, numa igreja de Nossa Senhora Aparecida. A mesma Nossa Senhora Aparecida cuja festa, por essas coisas de Deus, coincide com o sétimo dia de uma tragédia de morte em que a vida insiste em ainda brilhar. A mesma Nossa Senhora que ficou de pé ao pé da Cruz em que o Seu Filho dava a vida pela vida do próximo. A mesma Nossa Senhora que ficou de pé porque sabia que a história do Filho não acabava naquela colina do Calvário, nem naquela tarde escura de sexta-feira.
Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós, para ficarmos de pé! Rogai por nós, Nossa Senhora, para nos lembrarmos de que a morte não é o final da história.
Via Aleteia
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