São Cosme e Damião não são 'orixás', 'ibejis' ou 'erês', mas foram cristãos mártires pela fé


NÓS, CATÓLICOS, devemos cultivar gratidão e veneração pelos nossos santos, pelo exemplo de vida e de amor a Cristo, que foram e continuam sendo para nós (conf. Hb 6,12; 1Cor 13,1; João 8,39), e por continuarem a interceder por nós no Céu, elevando suas orações ao único Mediador da nossa Salvação, Jesus Cristo, Senhor nosso (conf. Ap 5,8. 6,9-10. 7,9-10. 8,4. 13-15; Hb 12,1; 1Tm 2,5).


Os verdadeiros São Cosme e São Damião foram cristãos mártires pela fé, e permanecem cultuados há muitos séculos (desde 300/400 d.C.). Até hoje, seus nomes são lembrados na Liturgia da Santa Missa, e são venerados também na Igreja Ortodoxa, que os homenageia em novembro. Seus restos mortais e suas relíquias estão distribuídos em Roma e em algumas igrejas e mosteiros da Alemanha, católicos e ortodoxos.

Trataremos neste estudo da ação do sincretismo religioso, que se reflete nas lendas e mitologias que cercam o culto a estes e a outros autênticos mártires da fé cristã. Ocorre que, lamentavelmente, no Brasil, o culto destes santos benfeitores foi bastante deturpado através da História, neste sincretismo típico do paganismo[1] e bastante presente nos cultos africanos trazidos pelos escravos a partir do século  XVI.

Sincretismo religioso é a prática de se misturar elementos de religiões diferentes, na tentativa de se estabelecer uma similaridade ou paridade que, de fato, não existe. No caso em questão, reflete-se na pretensão de se dar "aparência católica" a um sistema de crenças completamente diferente ou oposto àquilo que prega o catolicismo. Lamentamos especialmente o fato de que, em nossos dias, tanto a mídia secular quanto parte das próprias instituições católicas ajudam a promover o sincretismo como se fosse coisa muito boa, louvável, digna e justa – como se fosse coisa cristã. Lamentamos porque, segundo a fé cristã de sempre, é algo nocivo para as almas.

Respeitar a liberdade religiosa de cada um e saber conviver, pacífica e respeitosamente, com as diferentes crenças, é algo que incentivamos. Assumir e promover o sincretismo religioso é outra coisa, completamente diferente.

Ocorre que, na triste época da escravatura, os cativos africanos, impedidos de exercer a sua própria religiosidade, criaram uma maneira engenhosa de ludibriar os senhores de engenho: invocavam seus deuses da natureza ou entidades espirituais – os "orixás", como "Oxalá", "Ogum", "Iemanjá" e muitos outros – simulando que rezavam para Jesus, Maria ou alguns dos santos mais reverenciados na época, como São Sebastião, São Jorge, Santa Bárbara, São Cosme e São Damião, etc. Tinham os escravos seus justos motivos para fazê-lo? Parece que sim, dada a violência de sua situação. Todavia é também um fato inquestionável –, como se pode ver claramente –, que o sincretismo religioso, já em sua origem, foi pensado para enganar.

Tal situação viria a causar, posteriormente, muita confusão entre o povo católico brasileiro, especialmente entre as pessoas mais simples: situação esta que permanece, em maior ou menor grau, até hoje. No dia da celebração de S. Cosme e S. Damião, costumam-se distribuir doces às crianças, usando os nomes dos santos católicos para homenagear  determinadas "entidades" espirituais infantis que compõem o panteão umbandista. No catolicismo, porém, Cosme e Damião não são crianças: são médicos, irmãos gêmeos, que entregaram suas vidas como mártires. Disponibilizamos abaixo um resumo da sua verdadeira história.

A verdadeira história de São Cosme e São Damião

Os gêmeos árabes Cosme e Damião eram filhos de uma nobre família de cristãos. Nasceram por volta do ano 260 d.C. na região da Arábia, e viveram na Ásia Menor. Desde muito jovens, ambos manifestaram um grande talento para a medicina, profissão à qual se dedicaram após estudarem na Síria.

Tornaram-se profissionais competentes e dignos, e foram trabalhar como médicos e missionários na Egéia. Amavam a Cristo com fervor, e decidiram atrair pessoas ao Senhor através dos seus serviços. Por isso, não cobravam pelas consultas e atendimentos que prestavam, e por esse motivo eram chamados de "anárgiros", que significa algo como “inimigos do dinheiro" ou quem "não pode ser comprado pelo dinheiro".

A riqueza que almejavam era fazer de sua arte médica também o seu apostolado para a conversão dos povos: uma missão que, a cada dia, cumpriam cada vez melhor. Seus corações ardiam por salvar as almas, e nisto se envolveram através da prática da medicina. Inspirados por Deus, usavam a fé aliada aos conhecimentos científicos, confiando sempre no poder da oração, e assim operaram verdadeiros milagres, Curaram muitos doentes em nome do Cristo Jesus, vários destes já à beira da morte.

Consta, inclusive, que também preocupavam-se em tratar animais, já que “toda a criação aguarda, com ardente expectativa, pela manifestação da Glória de Deus” (Rm 8,18-19).

Manifestaram autoridade do Alto, pregando o Evangelho inclusive com sinais e prodígios. Sua linguagem e sua pregação, conformes às Escrituras, “não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de Poder” (ICo 2.4). De tal forma, conseguiram plantar a semente da Salvação em muitos corações, colhendo inúmeras conversões ao Senhor Jesus. Cosme e Damião possuíam uma Revelação clara do chamado que tinham como ministros do Evangelho, chamado que cumpriam no cotidiano de sua rotina profissional, ministrando Cristo através de seu trabalho.

As atividades cristãs dos médicos gêmeos, porém, chamaram a atenção das autoridades locais da época, quando o Imperador romano Diocleciano autorizava a perseguição aos cristãos. Diocleciano odiava os cristãos porque, fiéis a Cristo, não lhe prestavam culto divino, nem adoravam ídolos ou estátuas de deuses pagãos, consideradas sagradas pelo Império Romano.

E assim, por serem cristãos, Cosme e Damião foram presos, levados a tribunal e acusados de se entregarem à prática de feitiçarias e de usar meios diabólicos para disfarçar as curas que realizavam. Ao serem questionados quanto às suas atividades, eles responderam: "Nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo, pela força do seu Poder". Apesar de todas as graves ameaças de terríveis castigos, diante do governador Lísias ousaram declarar que aqueles falsos deuses não tinham poder algum sobre eles, e que só adorariam ao Deus Único, Criador do Céu e da Terra. Mantiveram o testemunho de Cristo, impressionando a todos por seu amor e sua entrega.

Por não renunciarem aos Mandamentos de Deus, sofreram tenebrosas torturas. E mesmo cruelmente maltratados, não se deixaram abalar em sua convicção e jamais negaram a fé. No ano 303, o Imperador decretou que fossem condenados à morte, na Egeia. Os dois irmãos foram postos, então, diante de uma sólida parede, para que quatro soldados os atravessassem com flechas, mas consta que resistiram às flechadas e também pedradas. Os militares foram assim obrigados a recorrer à espada para a decapitação, considerada uma honra reservada somente aos cidadãos romanos. Dessa maneira é que Cosme e Damião foram martirizados.

* * *

Dois séculos após as mortes de Cosme e Damião, por volta do ano 530, o Imperador Justiniano deu ordens para que se construísse, em Constantinopla, uma bela igreja em honra deles. A fama dos gêmeos também correu no Ocidente, a partir de Roma, e uma basílica lhes foi dedicada, construída a pedido do Papa Félix IV, entre os anos 526 e 530. A solenidade de consagração desta basílica ocorreu num dia 26 de setembro, data em que os santos gêmeos são celebrados pela Igreja.

Até hoje, S. Cosme e S. Damião são venerados em toda a Europa, especialmente na Itália, França, Espanha e Portugal. Além disso, são padroeiros dos médicos e farmacêuticos. Devido à sua simplicidade e inocência, também são invocados como protetores das crianças, e por isso é que, algumas vezes, foram retratados como infantes.

Aqui no Brasil, como vimos, lamentavelmente a veneração autêntica foi confundida com práticas estranhas ao cristianismo. A devoção trazida pelos portugueses misturou-se com o culto aos "orixás-meninos" (ditos 'ibejis' ou 'erês') da tradição africana yorubá. Cosme e Damião, santos "mabaças" ou gêmeos, muito populares, são amplamente festejados na Bahia e no Rio de Janeiro, onde sua festa ganha as ruas e adentra aos barracões de candomblé e terreiros de umbanda, no dia 27 de setembro, quando crianças saem em grupos pedindo doces e esmolas em nome dos santos.

Uma característica marcante na Umbanda e no Candomblé, em relação às representações de Cosme e Damião, é que junto aos dois santos católicos aparece uma criança pequena vestida com trajes iguais aos deles. Essa criança é chamada "Doúm" ou "Idowu" e personifica as crianças de até sete anos de idade, sendo, segundo a crença, o seu protetor. Nas festas de tradição afro, enquanto as crianças se deliciam com a iguaria consagrada, os adultos, em volta, entoam cânticos (oríns) aos orixás. No sincretismo, Cosme e Damião são os orixás "ibeji", filhos gêmeos de Xangô e Iansã, entidades espirituais que se creem protetoras do parto duplo, amigos das crianças e responsáveis por atender pedidos em troca de doces (daí o costume de se distribuir doces). Sinal evidente, as imagens que apresentam três figuras não são católicas, já que S. Cosme e S. Damião, evidentemente, são apenas dois. O dia de S. Cosme e S. Damião é celebrado também pelas linhas candomblé, batuque, xangô do nordeste, xambá e pelos centros de umbanda, sendo que em todos estes são associados aos "ibejis"

O que nos entristece, em toda essa história, é ver a profanação, precisamente, dos princípios eternos pelos quais os gêmeos árabes morreram. Suprema contradição: justamente Cosme e Damião, que tanto lutaram contra o sincretismo –, de fato, exatamente por essa razão foram executados –, são hoje verdadeiros símbolos de tal prática!

Os verdadeiros S. Cosme e S. Damião foram cristãos santos e fiéis até o fim; amaram o Senhor sem medida e sem restrições manifestaram Jesus em suas vidas. Assim, ganharam inúmeras almas através do amor e da pregação do Evangelho. É neste testemunho que devemos nos inspirar.

É lícito que um católico distribua ou aceite doces em honra de São Cosme e São Damião?

Evidentemente, os católicos não devem participar do sincretismo, que é de fato um desvirtuamento da autêntica veneração a esses e outros santos. Em certas situações, no entanto, torna-se difícil saber quem adota esse costume por verdadeira devoção ou para homenagear os orixás. Essa prática só poderia ser permitida aos cristãos católicos se feita por pura caridade, sem qualquer ligação com devoções e/ou ritos estranhos à nossa fé. S. Cosme e S. Damião podem somente ser cultuados na fé da Igreja, nas Missas, novenas e orações particulares.

Cabe salientar –, mais uma vez –, que nós, católicos, podemos e devemos saber conviver pacificamente com as diversas opções religiosas das pessoas que nos cercam, na medida do possível, desde que para isso não deixemos de afirmar a nossa fé cristã, católica e apostólica. É preciso sempre deixar muito claro que S. Cosme e S. Damião são nossos irmãos na fé, que pedem por nós no Céu, e não entidades espirituais da umbanda.

Atualmente, na Igreja Católica, o dia de Cosme e Damião é 26 de setembro, por conta do dia de São Vicente de Paulo, que morreu no dia 27 e passou a ser festejado nessa data – pois a morte de um santo é o dia em que ele nasce no Céu e para a Igreja. Como não se sabe com exatidão o dia da morte de Cosme e Damião, sua festa foi transferida para o dia 26.

Na Bahia, região onde a cultura africana é mais presente e o sincretismo também é maior, certos grupos de professos católicos comemoram o dia de S. Cosme e S. Damião juntamente com representantes de outras vertentes religiosas, oferecendo o caruru, comida típica das religiões que cultuam os orixás. Quando se faz o “caruru de santo”, é costume convidar sete crianças normalmente desconhecidas e convidadas na rua, de última hora, para serem servidos antes de todos. A Igreja Católica não aprova ou apoia esse tipo de costume, por favorecer o sincretismo e a confusão de conceitos entre religiões diferentes, mas por ser uma prática profundamente enraizada na cultura popular, acaba sendo tolerada como costume cultural ou folclórico típico.

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1. Paganismo entendido como o conjunto das religiões que adotam o politeísmo ou o culto a vários deuses, espíritos, seres espirituais superiores ou entidades da natureza, etc. (conf. MICHAELIS, Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa online / CALDAS AULETE dicionário online).

Fontes e referência:
QUEVEDO, Oscar Gonzales. Milagres: A ciência confirma a fé, 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2000, pp.18-21. 
AQUINO, Felipe. Artigo "Cosme e Damião são santos mesmo?", disponível em
http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=4217

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