Entenda porque Ir. Lúcia não foi canonizada com os 2 pastorzinhos



Os pastorzinhos Jacinta e Francisco Marto, cuja festa litúrgica será celebrada no dia 20 de fevereiro de cada ano, data do falecimento de Jacinta.


Muitos se perguntam o porquê de Lúcia não ter sido canonizada junto com seus primos, visto ter estado presente nas aparições?

Jacinta e Francisco Marto, os dois irmãos de apenas nove e dez anos, junto com a prima Lúcia dos Santos, tiveram visões de Nossa Senhora pela primeira vez em 13 de maio de 1917, seguindo-se em todos os dias 13 de cada mês, até chegar ao mês de outubro. Nos "encontros celestiais", Maria deixou mensagens sobre acontecimentos futuros e recomendações aos pequenos, entre estas, a de rezar o Rosário diariamente. Francisco e Jacinta foram canonizados, enquanto o processo para a beatificação de Irmã Lúcia está sendo analisado na Congregação das Causas dos Santos.

Fases a serem cumpridas para uma canonização

A canonização é a confirmação por parte da Igreja de que um Beato pode ser declarado Santo. Somente o Papa tem a autoridade de conceder o estatuto de Santo a alguém. O cânon 1187 do Código de Direito Canônico reza que "só é lícito venerar com culto público os servos de Deus, que foram incluídos pela autoridade da Igreja no álbum dos Santos ou Beatos".

Através da instrução "Sanctorum Mater" da Congregação para as Causas do Santos, de 1983, são definidas as normas que regulam o início das causas de beatificação. A Instrução divide-se em seis partes, sendo que a primeira delas trata da necessidade de uma autêntica fama de santidade para se dar início ao processo e se explicam as figuras e tarefas do autor do postulador e do bispo competente para a causa. Na segunda é descrita a fase preliminar da causa que chega até à concessão do "nulla osta" da Congregação para as Causas dos Santos. A terceira diz da celebração da causa. A quarta trata das modalidades para se recolher as provas documentais. A quinta cuida das provas testemunhais e na sexta são indicados os procedimentos para os atos conclusivos da instrução diocesana.

Cabe ao bispo diocesano ou autoridade da hierarquia a ele equiparada, de iniciativa própria ou a pedido de fiéis, investigar sobre a vida, virtudes ou martírio e fama de santidade e milagres atribuídos e, se considerar necessário, a antiguidade do culto da pessoa cuja canonização é pedida. Nesta fase a pessoa investigada recebe o tratamento de "Servo de Deus" se é admitido o início do processo.

O postulador da Causa deverá recolher informações detalhadas sobre a vida do Servo de Deus e informar-se sobre as razões que favoreceriam a promoção da causa da canonização. Os escritos que tenham sido publicados devem ser examinados por teólogos censores. Nada havendo neles contra a fé e aos bons costumes, passa-se então ao exame dos escritos inéditos e de todos os documentos que de alguma forma se refiram à causa. Se ainda assim o bispo considerar que se pode ir em frente, providenciará o interrogatório das testemunhas apresentadas pelo postulador e de outras que achar necessário.

Em separado se faz o exame do eventual martírio e o das virtudes, que o servo de Deus deverá ter praticado em grau heroico (fé, esperança e caridade; prudência, temperança, justiça, fortaleza e outras) e o exame dos milagres a ele atribuídos. Concluídos estes trabalhos tudo é enviado a Roma para a Congregação da Causa dos Santos. No caso da Irmã Lúcia, isto foi feito em fevereiro de 2017.

Para tratar das causas dos santos, existem os consultores da Congregação para a Causa dos Santos - procedentes de diversas nações - peritos em história e em teologia, sobretudo espiritual, além de um Conselho de médicos, que tratarão das causas enviadas ao dicastério vaticano. Sendo reconhecida a prática das virtudes em grau heroico um decreto declara o Servo de Deus "Venerável".

Havendo a existência de um milagre, este é examinado numa reunião de peritos. Caso se tratar de uma cura, será analisado por um Conselho de médicos, para então ser submetido a um Congresso especial de teólogos e por fim à Congregação dos cardeais e bispos. O parecer final das avaliações é comunicado ao Papa, a quem compete o direito de decretar o culto público eclesiástico que se há de tributar aos Servos de Deus.



A Beatificação portanto, só pode ocorrer após o decreto das virtudes heroicas e da verificação de um milagre atribuído à intercessão daquele Venerável. E comprovado o milagre é expedido um decreto, a partir do qual pode ser marcada a cerimônia de beatificação, que pode ser presidida pelo Papa ou por algum bispo ou cardeal delegado por ele.

Caso a Igreja comprove mais um milagre por intercessão do Beato, em uma Missa solene presidida pelo Santo Padre ou por um Cardeal por ele delegado, esta pessoa será declarada Santa e digna de ser elevada à glória dos altares e receber a mesma veneração em todo o mundo, concluindo assim o processo de Canonização.

Processo de beatificação de Lúcia

A Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, nome que adotou quando professou os seus votos perpétuos, em 31 de maio de 1949, morreu a 13 de fevereiro de 2005 e foi sepultada no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, sendo os seus restos mortais trasladados para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima a 19 de fevereiro de 2006, ficando ao lado de sua prima Jacinta.

Três anos após a morte de Lúcia, em 3 de fevereiro de 2008, o Cardeal José Saraiva Martins, então Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, anunciava no Carmelo de Coimbra, que o Papa Bento XVI havia atendido ao pedido do Bispo de Coimbra, Dom Albino Cleto, e de numerosos fiéis em todo o mundo, para que fosse dispensado o período canônico de espera de cinco anos para abertura do processo de beatificação da vidente, autorizando assim a sua antecipação.

A fase diocesana do processo foi aberta por Dom Albino Cleto, em 30 de abril de 2008, e a sua conclusão foi anunciada em 13 de janeiro de 2017. A sessão solene de encerramento do processo decorreu a 13 de fevereiro de 2017, nove anos depois do seu início e 12 anos após a morte da vidente. Imediatamente, a documentação foi enviada para a Congregação da Causa dos Santos, onde está sendo avaliada.

Um longo período que se justificou, segundo a Irmã Ângela Coelho, vice-postuladora da Causa de Canonização da Irmã Lúcia, pela necessidade de analisar a numerosa documentação sobre a vidente, grande parte da qual existente no Vaticano, e de recolher os testemunhos acerca da sua fama de santidade e das suas virtudes heróicas, culminando num volumoso processo de 15 mil páginas que passa, agora, para a fase romana de análise, sob competência da Congregação para as Causas dos Santos.

Jacinta e Francisco

Francisco morreu com 10 anos em 4 de abril de 1919, de febre espanhola e Jacinta, dez meses mais tarde, em 20 de fevereiro de 1920, prestes a completar 10. A fama de santidade dos dois pastorzinhos, logo após as suas mortes, já havia se difundido por todo o mundo.

Nossa Senhora, em 1917, havia dito às crianças que logo levaria ao céu Jacinta e Francisco, e foi o que ocorreu. "Quando Lúcia soube desta notícia, teve medo de ficar sozinha, sem a companhia dos primos. Então Maria disse a Lúcia para não temer: 'O meu Coração Imaculado será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus'", recordou à RV o Cardeal Angelo Comastri.

O pedido para investigar a santidade dos dois foi iniciado pela Diocese de Leiria somente em 1952 e concluído em 13 de maio de 1989, com o decreto de João Paulo II que reconhecia a “heroicidade das virtudes e a maturidade de fé de crianças não-mártires”, abrindo assim o precedente para o reconhecimento da santidade dos dois.

Na realidade, o obstáculo existente era uma questão de fundo debatida no decorrer do século XX, em relação à possibilidade ou não de levar em consideração duas crianças como candidatos à canonização. A questão foi então resolvida em 1981 por meio de um um documento emitido com este propósito pela Congregação da Causa dos Santos.



Relatos de Lúcia fundamentais para canonizações

Em setembro de 1935, o corpo incorrupto de Jacinta foi trasladado de Vila Nova de Ourém a Fátima. O corpo foi fotografado e o Bispo de Leiria-Fátima, José Alvez Correia da Silva, enviou uma cópia à Lúcia, que havia se tornado uma Irmã dorotéia. Na ocasião, o prelado havia pedido a Lúcia que escrevesse tudo o que sabia sobre a vida de Jacinta. Nascia assim a primeira memória, que ficou pronta no Natal de 1935.

Sucessivamente o bispo pediu que Lúcia escrevesse também suas recordações a respeito de Francisco e os fatos ocorridos em Fátima.

Não fossem estes relatos deixados sobre a breve vida dos dois irmãos, talvez ninguém poderia ter pensado em abrir uma Causa de Canonização, mesmo porque naquele tempo ainda não havia sido decretado o reconhecimento de "exercício das virtudes em grau heróico" também para os pequenos.

Beatificação e canonização

O milagre atribuído à intercessão de Francisco e Jacinta, e que levou à beatificação dos dois por João Paulo II em 13 de maio do ano 2000, foi reconhecido em 1999. Já o que abriu o caminho para a canonização, foi reconhecido em 23 de março passado, e diz respeito ao menino paranaense Lucas, que na época tinha seis anos.

A Postuladora da Causa, Ângela de Fátima Coelho, afirmou que "o processo de canonização dos pastorzinhos é o reconhecimento diante do Povo de Deus de que estas crianças, que encarnam o acontecimento de Fátima, chegaram, como diz a carta aos Efésios, «ao homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo».

Neste mesmo sentido, considera o Prof. Antonino Grasso, mariólogo, docente no Instituto Superior de Ciências Religiosas "São Lucas" de Catânia, Itália, e especialista em Fátima:

"Quando os videntes testemunham com a sua vida que seguem as indicações da mensagem da Virgem e alcançam os mais altos graus da santidade, é claro que são um testemunho concreto da veracidade das aparições que afirmaram. Portanto, é importante sob este aspecto a canonização dos dois pastorzinhos porque eles, tendo recebido a mensagem da Virgem, a colocaram em prática em suas brevíssimas vidas, seguindo as indicações sobretudo da Virgem que pedia a eles para rezar pela paz, mas sobretudo de sacrificar-se pelos pecadores".

Via Rádio Vaticano 
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