Corrupção é consequência da repetição de pecados, o que limita a capacidade de amar. Nas rodas de conversa, é só puxar o assunto que o papo rende. Em tempos de Lava-Jato, operação da Polícia Federal – que já completa três anos –, tornou-se habitual associar corrupção às estruturas políticas. Porém, o objetivo deste texto é ampliar a visão desse tema que, infelizmente, atinge todas as áreas. Inclusive, há corrupção dentro de nós, em nossa casa, comunidade e igreja.
Em 2005, o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, hoje Papa Francisco, escreveu um livro intitulado ‘Corrupção e Pecado’, o qual nos ajuda nessa reflexão tão importante e atual. Embora seja um ato intrinsecamente ligado ao pecado, distingue-se dele em algumas coisas. Pecado reiterativo conduz à corrupção. Não é a repetição de pecados que provocam um corrupto, mas os hábitos de má qualidade que vão deteriorando e limitando a capacidade de amar. O coração vai se encolhendo, perdendo os horizontes, e o egoísmo passa a ser sua maior referência.
Processo de morte
Ações corruptas levam pessoas e instituições a um processo de decomposição. Perde-se a capacidade de ser, crescer e servir. É um verdadeiro processo de morte. A vida morre, fica a corrupção. É como uma folhagem que se desenvolve, alimentada pelo húmus da fraqueza humana e da cumplicidade.
Pecadores sim, corruptos não!
Geralmente, relacionamos corrupção ao pecado, mas não é bem assim. “Situação de pecado e estado de corrupção são duas realidades diferentes, embora intimamente entrelaçadas”, explica Bergoglio. Isso não significa que a corrupção faça parte da vida normal da sociedade. Tais atos devem ser denunciados e combatidos. Pecado se perdoa. Corrupção não pode ser perdoada. Diante do Deus que não se cansa de perdoar, a autossuficiência do corrupto vira um bloqueio, que o impede de pedir perdão.
Deus aceita o pecador
“Pecador sim!” Como é lindo reconhecer-se pecador e poder sentir a misericórdia do Pai das Misericórdias, que nos acolhe a todo momento! Mas como é difícil para um coração corrupto deixar-se alcançar pelo vigor profético do Evangelho!
“Quem não rouba é trouxa”, diz o ‘cara de vaso'”. A autossuficiência é um escudo que isola e não permite questionamentos. Defende que “quem não rouba é trouxa”. Francisco afirma que “o corrupto construiu uma autoestima baseada justamente nesse tipo de atitudes enganosas, caminha pela vida pelos atalhos do vantajoso a preço de sua própria dignidade e a dos outros”. E o pior, esconde-se em uma cara de inocente.
Sintomas da corrupção
O corrupto adquiriu características de verme: tem medo da luz, vive nas trevas, debaixo da terra. Diante de críticas, enfurece-se, desqualifica pessoas ou instituições que o criticam. Procura aniquilar toda autoridade moral que o possa questionar. Usa de todo tipo de argumento para se justificar. Desvaloriza os outros e insulta quem pensa diferente dele. De maneira inconsciente, persegue-se, projetando-se nos outros, tornando-se perseguidor. Assim como quem tem mal hálito, o corrupto não percebe sua corrupção. Os outros que o sentem é que têm de lhe dizer.
A corrupção tem cheiro de podre. “Quando alguma coisa começa a cheirar mal, é porque existe um coração preso sob pressão entre sua própria autossuficiência imanente e a incapacidade real de bastar a si mesmo; há um coração podre por conta da excessiva adesão a um tesouro que o aprisionou”, afirma.
No Evangelho, o corrupto faz armadilhas para Jesus (cf. Jo 8, 1-11; Mt 22, 15-22; Lc 20, 1-8), cria intrigas para tirá-lo do caminho (Jo 11, 45-57; Mt 12, 14), suborna quem tem capacidade de trair (Mt 26, 14-16).
Consequências
A corrupção tende a asfixiar a força da Palavra de Deus. Pode levar ao desmoronamento pessoal ou social.
O remédio
O remédio para essa doença é o Evangelho. A verdade de Cristo é a força para sacudir a alma, ensinar a discernir os estados de corrupção que nos circundam com ameaças e seduções. Por isso, é preciso declarar com força e temor: “pecador sim, corrupto não”.
O estado de corrupção não pode ser aceito como mais um pecado. Corrupção é consequência de um coração corrupto. “O coração não é uma última instância do homem, fechada em si mesma”, esclarece o Papa. Ele orienta ainda que o coração humano é coração na medida em que é capaz de amar ou negar o amor (odiar).
Onde está o teu tesouro?
“Porque onde está teu tesouro, lá também estará o teu coração” (Mt 6,21). Francisco indica conhecer o tesouro que está no coração, portanto, a referência para a sua vida. O tesouro que está no coração liberta e plenifica, destrói e escraviza; neste último caso, o tesouro que o corrompe. Como o corrupto vive anestesiado, Deus o salva por meio de provações que lhe cabe viver como doenças, perdas de fortuna e de entes queridos. Essas quebras da estrutura corrupta permitem a entrada da graça e a cura.
Via CN
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