A famosa afirmação “fora da Igreja não há salvação”, utilizada desde os tempos primitivos e que foi composta por São Cipriano no século III, inculca muita gente, ainda mais num mundo de ecumenismo cristão e diálogo com outras religiões. Não pretendo aqui fazer uma vasta análise teológica para uma coisa que se pode entender muito bem por analogias enraizadas em princípios morais basilares e de fé que sustentam a teologia da Graça.
Por exemplo, em se tratando do judaísmo, podem se salvar os judeus? Até podem. Dependerá dos “caminhos da graça”, pois o condicionamento histórico atenua certos fatores no juízo de Deus. Se Deus julgasse somente pelo seu mandamento divino-positivo, todos estaríamos condenados. Cristo nos advoga. E nessa defesa portanto existem fatores históricos universais e individuais que são considerados pelo juízo divino e que estão relacionados aos limites do conhecimento da fé, basta-nos lembrar do clamor de Cristo na Cruz: “Pai, perdoai, pois eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
Afinal, é uma certeza de que Deus não é injusto. E a virtude da justiça para aplicar o grau de imputabilidade (culpabilidade) das obras a alguém avalia todas as circunstâncias para aplicar a pena ou absolver. Em Deus tudo isso é instantâneo: “julgará a terra inteira com justiça” (Sl 97,9).
Continuando o exemplo, se uma pessoa nasceu judia, e sempre aprendeu o “oposto” da fé cristã e todo esquema doutrinal judaico foi se estabelecendo nela dificultando assim o acesso à graça de modo mais pleno e ao conhecimento da Palavra em seu sentido real, ela terá menos condições para o crer que nós que nascemos num berço minimamente cristão. Isso é levado em conta no juízo. Jesus mesmo fala da diminuição na severidade do juízo devido a falta de conhecimento: “Aquele, porém, que não conhecendo fez coisas dignas de açoite, será açoitado poucas vezes. A todo aquele que muito foi dado, muito lhe será requerido; e ao que muito foi confiado, ainda mais lhe será pedido” (Lc 12,48).
Esta realidade de ignorância é muito diferente do orgulho obstinado que hesita mediante a clarividência da Verdade, em que o homem não quer renunciar a sua condição anterior para aceder à verdade plena, pois perderia muita coisa com isso ou porque prefere acreditar não no que foi Revelado e já está claro, mas naquilo que ele mesmo estabeleceu como verdade (subjetivismo). Isto é, aquilo que é objetivo (universal) e já foi compreendido “dadas as razões da esperança” (I Pd 3,15) é rejeitado em troca daquilo que é subjetivo (individual). Nisto há uma severa culpa a ser contada no juízo. Diferente grau de culpa teria o ignorante sem a acesso, ou impedido por sua ambientação, às verdades salvíficas.
Esta realidade de ignorância é muito diferente do orgulho obstinado que hesita mediante a clarividência da Verdade, em que o homem não quer renunciar a sua condição anterior para aceder à verdade plena, pois perderia muita coisa com isso ou porque prefere acreditar não no que foi Revelado e já está claro, mas naquilo que ele mesmo estabeleceu como verdade (subjetivismo). Isto é, aquilo que é objetivo (universal) e já foi compreendido “dadas as razões da esperança” (I Pd 3,15) é rejeitado em troca daquilo que é subjetivo (individual). Nisto há uma severa culpa a ser contada no juízo. Diferente grau de culpa teria o ignorante sem a acesso, ou impedido por sua ambientação, às verdades salvíficas.
Na verdade, julgar o grau de culpabilidade pelos limites do conhecimento, pelas circunstâncias do indivíduo e sua situação pessoal no ato operado é um princípio ético fundamental utilizado até mesmo pela justiça humana. Distinguimos crimes passionais ou friamente calculado escalando em graus a gravidade das ações, e balizamos o juízo dos que foram cometidos por um néscio ou por um são, etc.
É por isso que a telogia da graça admite até certo ponto a possibilidade salvífica mesmo “fora” da Igreja. Mas como explicar que “não há salvação fora da Igreja”? Está correta a expressão? Claro que está! Porque mesmo alguém fora dela, não sendo seu membro ativo, pode gozar de uma graça que a pertence, pois todas as graças se encerram na Igreja. Em analogia, é como se alguém pegasse o fruto caído de uma árvore e o comesse. A Igreja porém produz os frutos e ela é esta árvore frondosa e frutuosa, isto é, o próprio Corpo Místico de Cristo. E alguém pode ser salvo sem ser por Jesus Cristo? E daí pergunto, pode ser salvo sem o que o seu Corpo Místico opera, sendo a Igreja o próprio Cristo? Não! Então “não há salvação fora da Igreja”. Nós produzimos nela os frutos para a nossa vida e vivemos da própria seiva, e ainda ajudamos a produzi-los a outros, somos seus membros ativos, somos “os ramos”, estamos em seus ricos galhos cheios de vida, estamos em Cristo e somos sua extensão.
É por causa das “sementes da verdade” (expressão empregada por São Justino) lançadas para fora desta árvore que alguns podem ser justificados e serem julgados por produzir ou não frutos correspondentes a essas parcelas da verdade, mesmo não as tendo conhecido de modo pleno, bem como a todos os instrumentos salvíficos instituídos por Cristo.
É daí que alguns vão partindo para extremos heréticos dizendo que alguém não tem que se converter à fé cristã, pois não seria preciso para se salvar. Ora, quem é que quer manter alguém escravo da verdade “mínima”, a não ser o diabo? Então ninguém diga que alguém não tenha que se converter à plena verdade.
O ecumenismo e o diálogo inter-religioso pela prática da Igreja não devem servir à verdade mínima, eles devem nos servir para transpôr no mútuo conhecimento e numa progressão estes irmãos separados à verdade plena.
Pe. Augusto Bezerra
Pe. Augusto Bezerra
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