As duas mentiras favoritas de Satanás


Considere isto: se você tivesse o dom de detectar imediatamente mentiras assim que as ouvisse, como seria sua vida?

Perguntei a um amigo que é muito questionador e tem um senso de humor irônico, e ele brincou: “Se eu tivesse esse dom, jogaria um tijolo na televisão durante cada comercial e teria uma úlcera em cada ano eleitoral”.



Mas, de qualquer maneira, vamos ficar com a pergunta: se você pudesse detectar mentiras, como seria sua vida? É fácil imaginar que a nossa vida seria muito melhor. Poderíamos abordar o futuro com mais confiança; e mesmo quando olhamos para trás, as escolhas passadas teriam sido feitas de forma diferente se tivéssemos visto as mentiras naquele momento.

Então, agora, vamos aplicar essa questão um pouco mais especificamente: como seria nossa vida espiritual se pudéssemos detectar as mentiras de Satanás? Podemos ter certeza de que esta é uma questão vital, porque Jesus descreve o diabo como “homicida desde o princípio” e “pai da mentira” (João 8, 44). Em outras palavras, Satanás mente a fim de roubar a vida – a vida do corpo através da violência e a vida da alma através do pecado. O primeiro roubo leva à sepultura; o segundo leva para o inferno.

Satanás diz mentiras sobre Deus e sobre nós. Começando no Éden, Satanás tenta nos convencer de que Deus não pode ser o suficiente para nós, e que Deus não oferece o melhor para nós. E desde o tempo da queda do homem, Satanás nos conta a mentira de que o nosso pecado nos define e que o nosso pecado pode e tem derrotado Deus. A raiz de ambas espécies de mentiras é dupla, ou seja, que Deus não é o nosso verdadeiro Pai e que somos órfãos espirituais com nenhuma esperança de encontrar um coração e uma casa acolhedora e duradoura. A força dessas mentiras venenosas é tão persistente como mortal.

Satanás implacavelmente defrauda Deus (“Deus só pode decepcioná-lo!”) e implacavelmente nos acusa diante de Deus (“Você só pode ser um desapontamento para Deus!”), a menos que sejamos vigilantes (1 Pedro 5, 8), acreditamos nas duas mentiras. Estamos inclinados a acreditar nessas mentiras sobre Deus porque podemos usar essas mentiras para justificar o nosso pecado (não diferente do alcoólatra que diz “se você tivesse uma vida como a minha, também beberia”). Estamos inclinados a acreditar em tais mentiras sobre nós mesmos porque o desespero e a condenação dão menos trabalho do que a esperança e a conversão.

O que fazer? Correndo o risco de soar “não-quaresmal,” vamos começar por recuperar a alegria. Aqui está o porquê: “o acusador de nossos irmãos é derrubado!” (Apocalipse 12,10 – o nome de Satanás significa “acusador”.) Nós, que fomos redimidos pelo sangue de Cristo, devemos insistir contra as mentiras de Satanás, insistir que o aquilo que nos define não é o nosso pecado, mas sim o nosso batismo e a adoção espiritual. Nós somos pecadores sim, realmente, e foi aos pecadores que foi oferecida a salvação e a graça de Cristo.

A verdade que Jesus derramou seu sangue pelos pecadores revela a monstruosidade da primeira mentira de Satanás, segundo a qual Deus não quer o nosso bem. Deus nos ofereceu o seu melhor, seu único Filho, para a nossa salvação. Tal dom imerecido não pode ser superado.



E agora podemos ver a pura maldade da segunda mentira de Satanás, segundo a qual nós podemos ser rejeitados por Deus. Nós, cristãos, temos o privilégio de sermos conformes à imagem e semelhança de Cristo. Então aquilo que nosso Pai celestial vê e ama no seu Filho, Ele verá e amará em nós. Especialmente durante a Quaresma devemos confrontar as mentiras de Satanás com a verdade libertadora. Não somos órfãos – somos herdeiros de um reino. Não somos sem-teto – temos um coração paternal nos esperando para voltar a casa. Não estamos perdidos – somos peregrinos que estão passando por este “vale de lágrimas”, chamados a uma glória além da nossa imaginação.

Pelo amor de Deus e do próximo, de gratidão pela dignidade a Cristo crucificado, vamos lutar para voltar. Vamos empurrar para trás as mentiras de Satanás. Vamos insistir na própria verdade de Deus em nossas palavras, nossa adoração e nosso trabalho. Devemos dizer a verdade a Deus, aos outros e a nós mesmos.

Padre Robert McTeigue, SJ, é membro da “Maryland Province of the Society of Jesus”. Professor de filosofia e teologia, tem longa experiência em direção espiritual, retiros e formação religiosa. Ensina filosofia na Universidade Ave Maria, FL, e é conhecido por suas aulas de retórica e ética.

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