Caro Krzysztof Charamsa,
Meu irmão,
Estou lhe escrevendo de Lourdes, onde oro por você à nossa Mãe de Misericórdia. Devo dizer que a sua declaração pública de homossexualidade realmente me marcou. Como você, eu sou um homem católico que experimenta a atração homossexual e é por esta razão que gostaria de responder à sua declaração pública.
É verdade que “muitos católicos homossexuais sofrem” diante do imobilismo da Igreja a respeito deles. As linhas que falam sobre a homossexualidade no Catecismo da Igreja Católica não constituem, em si mesmas, um programa pastoral. Nessa atmosfera, é normal que, às vezes, experimentemos “exclusão e estigmatização”.
Eu entendo, em parte, a “homofobia” de alguns de nossos irmãos católicos, porque eles nada sabem sobre a homossexualidade e muito menos como comportar-se diante de uma pessoa que se diz abertamente “gay”. Às vezes, eu me sinto como um marciano. Devemos reconhecer, no entanto, que as coisas estão mudando. Na Relatio Synodalis §76, os padres sinodais declaram: “Reserve-se particular atenção ao acompanhamento das famílias onde vivem pessoas homossexuais”. Percebemos que a Igreja entendeu que precisa envolver-se nesta pastoral. Na França, existe a Courage et Encourage, que presta apoio às pessoas que experimentam a atração pelo mesmo sexo, assim como às suas famílias, na jornada para seguir a Cristo.
Todos nós devemos rejeitar publicamente a violência contra os homossexuais. Não existe nenhuma violência que possa ser justificada. E se, entre nós, na Igreja, surgir alguma violência, peçamos perdão ao nosso Pai misericordioso. Não é abandonando a Igreja que poderemos curar essas feridas; é amando-a. Não devemos criar um cisma: uma “Igreja pró-gay” e uma “Igreja anti-gay”. É necessário avançarmos todos juntos, ouvindo-nos uns aos outros, sem julgamento, se o nosso objetivo comum é mesmo Cristo.
Podemos permanecer juntos?
A Igreja não deve apenas proclamar a verdade: ela deve proclamá-la com misericórdia. Este Jubileu, que abre tais portas, é um sinal para todos. A Igreja é nossa mãe, cuida de nós, nos mostra o Caminho: Cristo. Às vezes, eu também tenho vontade de romper o cordão umbilical que me liga a essa mãe: “Mamãe, me deixe em paz!”. Mas, então, eu olho para Jesus, nosso Deus, que ouviu a sua mãe até os 33 anos. “Eles não têm mais vinho…”.
A Igreja é também a família de todos, inclusive de todos aqueles que não podem, com suas próprias forças, fundar uma família. Não porque a Igreja os proíba, mas porque o direito da criança de crescer rodeada por um pai e uma mãe, de preferência o seu pai e a sua mãe, prevalece. E nós sabemos o quanto é difícil, para uma criança que não tem um pai que a ama, compreender o amor de Deus Pai, assim como é difícil, para aquele que não tem a mãe, compreender o amor da Igreja. O que vivemos nesta terra prefigura o que vamos viver no céu. Espero que aqueles que experimentam o saudável desejo da paternidade encontrem na Igreja os filhos e filhas que podem levar até Jesus.
Você respondeu ao chamado de Cristo ao aceitar o sacerdócio ministerial. Eu entendo que algumas das nossas escolhas na vida, às vezes, parecem pesadas e difíceis de manter. Mas peçamos, ao menos, ajuda para viver melhor os nossos compromissos. E eu sei que existem grupos de apoio para os sacerdotes que experimentam a atração pelo mesmo sexo. Fico triste por você não ter encontrado esse apoio e peço perdão pela Igreja se você não o encontrou. Agora que, para você e para Eduardo, começa uma nova estrada, eu peço ao Senhor que os guie nas novas fases da sua vida.
Fraternalmente,
por Maria a Jesus,
Clément Borioli
Fonte: Aleteia
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