Mistério em Minas Gerais. Uma série de crimes religiosos está desafiando a
polícia e assustando a população. De março até agora, sete igrejas católicas
foram incendiadas. Os bandidos também quebram as imagens dos santos e deixam
uma assinatura: uma cruz de sal grosso.
As noites no interior
de Minas Gerais escondem um mistério. Os bandidos agem na madrugada. Eles se
aproveitam de um costume dos moradores da zona rural: quando anoitece, todo
mundo se recolhe. Ninguém na estrada, nem luz.
Os criminosos estão colocando fogo em capelas. Quando amanhece, é possível ver a destruição.
E um fato chama a atenção: em frente a cada igreja queimada, é deixada uma cruz de sal grosso.
“Mistério assim do
mal, né? Eu acredito”, diz o lavrador Xisto Romualdo.
Os ataques religiosos
começaram em março. Até agora, sete capelas foram incendiadas em quatro
cidades. Elas ficam a cerca de 250 quilômetros de Belo Horizonte.
A localização das
igrejinhas facilita a ação dos bandidos. Todas estão em áreas isoladas.
A capela de Macuco foi
incendiada no começo de agosto. Os bandidos usaram uma mesa como apoio para
entrar pela janela. Restaram apenas as paredes.
“Nós usava a capela assim pra assistir missa, catequese, consultório médico também. Tudo de bom que tinha na comunidade era aqui”, lamenta Tereza Gerônimo, coordenadora do Conselho Comunitário Pastoral de Macuco.
Seu José lamenta a
destruição da igreja que ajudou a construir.
Fantástico: Quem o
senhor acha que fez isso?
José Sabino
Figueiredo: Gente não pode ser não. Gente batizada não faz um papel desses.
Na mesma noite, uma
hora depois, a poucos quilômetros da comunidade de Macuco, outra capela foi
incendiada. No povoado de Quatro Barras também foi deixada uma cruz de sal.
“Não estou dormindo
de noite. Estou muito preocupada ainda com o que eu vi que nunca tinha visto: o
santuário nosso, de nós rezar todo domingo, dia de semana nós reza também,
pegando fogo sem a gente poder salvar”, lamenta a catequista Maria da Glória
Batista.
A capela tinha sete
imagens de santos. Sobrou apenas uma, de Nossa Senhora Aparecida. Durante o
incêndio, a mesa onde ela estava apoiada foi quase toda queimada, sobrou apenas
um cantinho onde a imagem estava.
“Sobrou uma imagem pra comunidade firmar mais e acreditar na Nossa Senhora”, diz a dona de casa Maria Rita Santos.
A polícia investiga
os ataques às igrejas e suspeita que sejam casos de intolerância religiosa.
“Por conta do incêndio, não há como colher digitais. Aproveitar para fazer um apelo, se alguém tiver informação, que traga até nós pra que sejam tomadas as medidas cabíveis”, pede o delegado Edvin Otto.
“Por conta do incêndio, não há como colher digitais. Aproveitar para fazer um apelo, se alguém tiver informação, que traga até nós pra que sejam tomadas as medidas cabíveis”, pede o delegado Edvin Otto.
Em Senador Firmino, o alvo foi a capela da Comunidade de Guaxupé. O prédio resistiu ao fogo, mas os criminosos deixaram outras marcas. Do lado de fora da capela estão os restos das imagens em um saco.
Os incêndios misteriosos mudaram a rotina no campo. As capelas agora vivem trancadas. E os moradores, têm que conviver com o medo.
Para Pedro Ribeiro,
doutor em ciências da religião, historicamente a cruz de sal grosso e o fogo
são sinais de purificação.
“Fazer uma cruz de
sal junto de alguma capela, junto a um espaço qualquer, significa ‘vamos
purificar’, ‘vamos afastar os maus espíritos que estavam aqui’. O que é
intrigante pra mim: quem acha que em uma capelinha, em que as pessoas se reúnem
para rezar, para celebrar, que aquilo dali é uma coisa má, é uma coisa de
espírito mau?”, questiona o doutor.
Ele diz que a
destruição das igrejas pode significar uma agressão do catolicismo.
“São sinais de dizer:
‘quem faz aquilo que meu Deus proíbe está errado e, portanto, eu tenho que
punir’. Ora, isso é intolerância. Isso vai contra todo pensamento da tolerância
religiosa, da aceitação do diferente, do sadio diálogo entre as religiões”, diz
Pedro Ribeiro.
Fonte: G1