Carta a Vladimir Putin: Papa Francisco descarta ação militar na Síria

Francisco escreve ao presidente russo por ocasião da reunião do G20, que começa nesta quinta-feira, 5
O Papa Francisco enviou nesta quinta-feira, 5, uma carta ao presidente russo, Vladimir Putin, em ocasião do encontro dos países do G20. O pontífice agradece o trabalho feito por Putin como presidente do Grupo, e também sua participação ativa desde a criação do G20.
Francisco ressalta que o a economia mundial poderá se desenvolver na medida em que for capaz de consentir uma vida digna a todos os seres humanos. “Desde os mais anciãos às crianças ainda no ventre materno, não somente aos cidadãos dos países membros desse grupo, mas a cada habitante da terra deve ser garantida a dignidade”, pede o Papa.
Segundo o pontífice, as guerras são barreiras para um empenho coletivo em busca de soluções econômicas igualitárias. Neste sentido, o Papa pediu que os líderes reflitam sobre a situação do Oriente Médio, em particular da Síria. “Dói pensar que diversos interesses têm prevalecido desde quando se iniciou os conflitos sírios, impedindo de encontrar uma solução que evitasse o massacre que estamos assistindo” alertou Francisco.

Na carta, o Papa ressalta que qualquer “solução militar”será vã, e pediu que a solução seja por meios pacíficos. “É um dever moral de todos os Governos do mundo favorecer as  iniciativas voltadas à promoção de uma assistência a todos que sofrem por causa do conflito”, pede o papa.
Francisco assegura ao presidente russo suas orações para o bom êxito do encontro entre os líderes do G20 que tem início nesta quinta-feira, 5. O Papa faz votos de que sua carta possa ajudar nas reflexões sobre os problemas abordados durante o encontro.
Carta do Papa ao presidente russo, Vladimir Putin
CARTA

Carta do Papa Francisco ao presidente da Rússia,Vladimir Putin, por ocasião da reunião da cúpula do G20
Quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Boletim da Santa Sé
Tradução: Liliane Borges
Neste ano, o Senhor tem a honra e a responsabilidade de presidir o grupo das vinte maiores economias do mundo. Estou ciente de que a Federação Russa participou do Grupo desde a sua criação e sempre desempenhou um papel positivo na promoção do governo das finanças mundiais, profundamente afetadas pela crise iniciada em 2008.
O contexto atual, altamente interdependente, exige um quadro financeiro mundial, com suas próprias regras justas e claras, a fim de alcançar uma forma mais justa e solidária, na qual seja possível  acabar com a fome, oferecer a todos um emprego digno, uma moradia digna e assistência sanitária. Sua presidência do G20 neste ano,  assumiu o compromisso de fortalecer a reforma dos organismos financeiros internacionais e chegar a um consenso sobre as normas financeiras adequadas às circunstâncias de hoje. No entanto, a economia mundial poderá se desenvolver realmente, na medida em que for capaz de permitir uma vida digna a todos os seres humanos, desde os idosos às crianças ainda no ventre materno, não somente aos cidadãos dos países membros do G20, mas a todos os habitantes da terra, mesmo aqueles que estão nas situações sociais mais difíceis ou nos lugares mais remotos.
Nesta ótica, fica claro que na vida dos povos os conflitos armados constituem sempre a deliberada negação de qualquer possibilidade de compreensão internacional, criando divisões profundas e feridas dolorosas que levam muitos anos para cicatrizarem. As guerras são a negação prática de qualquer esforço para alcançar as grandes metas econômicas e sociais que a comunidade internacional tem como dever, por exemplo, o Millennium Development Goals . Infelizmente, os muitos conflitos armados que ainda assolam o mundo,  nos apresentam  todos os dias, uma imagem dramática da miséria, da fome, das doença e morte. Na verdade, sem paz não há qualquer tipo de desenvolvimento econômico. A violência nunca traz a paz, condição necessária para tal desenvolvimento.
A reunião dos Chefes de Estado e de Governo das vinte maiores economias, que representam dois terços da população e 90% do PIB mundial, não tem a segurança internacional como seu principal objetivo. No entanto, não podemos deixar de refletir sobre a situação no Oriente Médio e, particularmente, na Síria. Infelizmente, dói ver que muitos interesses têm prevalecido desde o início do conflito sírio, impedindo encontrar uma solução que evitasse o massacre desnecessário que estamos assistindo. Os líderes dos países do G20 não permaneçam inertes diante do drama que tem vivido por muito tempo a cara população síria e, ainda ameaçam trazer mais sofrimento a uma região duramente provada e  necessitada de paz. A todos eles, e cada um deles, dirijo um sentido apelo para que ajudem a encontrar caminhos para superar os diferentes contrastes e abandonar toda a vã pretensão de uma solução militar. Mais do que isso, haja um novo compromisso de prosseguir com coragem e determinação, uma solução pacífica através do diálogo e negociação entre as partes envolvidas, com o apoio unânime da comunidade internacional. Além disso, é um dever moral de todos os governos do mundo encorajar qualquer iniciativa para promover a assistência humanitária aos que sofrem por causa do conflito dentro e fora do país.
Senhor Presidente, na esperança de que essas reflexões possam constituir uma válida contribuição para o encontro, rezo para o êxito frutuoso dos trabalhos do G20. Invoco abundantes bênçãos sobre a cúpula que acontecerá em São Petersburgo, sobre todos os participantes, sobre todos cidadãos  dos Estados membros e sobre todas as atividades e compromissos da presidência russa do G20 em 2013.
Ao pedir-lhe que reze por mim, aproveito a oportunidade de expressar, Sr. Presidente, os meus maiores sentimentos de estima.
Vaticano, 4 setembre de 2013

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