Vivemos num
tempo em que a infância dura menos e a juventude dura mais. No meio deste
caminho, a idade das mudanças e indecisões – a adolescência – parece nunca ter
fim. Existem crianças que aos 10 anos (às vezes menos) têm sua sexualidade
acordada e vivida como se fossem adolescentes em tempos de crises e
descobertas. Isso que deveria ser uma rápida e incômoda transição acaba se
prolongando por muitos anos. Encontrei um “jovem” de 35 anos que tinha todos os
ares de adolescente e me confidenciou: “Ainda não descobri a minha vocação. O
que eu faço?”.
Existe uma tirania da nossa “modernidade líquida, relativista e subjetivista” que ilude nossa juventude vendendo a liberdade ao preço da solidão. O resultado é o estresse, a depressão e uma incrível indecisão. O que fazer da sua vida? Qual a sua vocação? Neste momento, temos que colocar alguns pingos nos “is” e deixar claros alguns conceitos para que essa ponte quebrada seja atravessada com segurança.
É preciso dizer que a vocação, antes de se ser uma resposta, uma opção, é um chamado de Deus. E Ele chama a todos indistintamente para a “vida”. Sobre esta vocação, não precisamos ter qualquer dúvida. Um dia fomos chamados a ser quem somos e onde somos. Não escolhemos nossos pais. Não escolhemos nossa cor, cultura, origem, povo, raça e nação. Quando tomamos consciência da vida, já estávamos aí. Essa vocação de raiz não exige nenhum discernimento. Exige aceitação, cultivo e gratidão.
Depois, fomos chamados à vida cristã. Quem
foi batizado na infância teve o sacramento do Crisma para confirmar a sua
decisão de pertencer ao povo de Deus na Igreja Católica. Aqui, já é preciso
discernimento. Não basta receber a fé dos pais. É preciso fazer a sua própria
experiência de fé. Hoje em dia, quem nasce católico só permanecerá católico se
se converter a partir de uma experiência pessoal de Deus na Igreja Católica.
Mas ainda aqui, nesse nível, não me parece que as pessoas tenham muitos
problemas vocacionais. O problema vem quando é necessário escolher o seu estado
de vida dentro da comunidade cristã.
No Cristianismo católico ocidental, temos três estados de vida. O cristão pode ser um fiel leigo, um religioso(a) consagrado(a) ou um ministro ordenado (diácono ou sacerdote). São estes os três estados de vida. Muitos jovens cristãos católicos entram em crise na hora de discernir sua vocação ao estado de vida.
Devo dizer que basicamente todo cristão é leigo, pois esta palavra significa “povo de Deus” (laós em grego). Então, a coisa fica mais fácil. Todos nós somos povo de Deus. A menos que o próprio Deus nos chame para uma “consagração” ou nos dê uma “ordem”. Aprendi que Deus não nos chama uma vez só. Ele é insistente com os que escolhe. Mas se você estiver em dúvida, vou lhe dar uma dica prática. Se acha que está ouvindo a voz de Deus para ser padre, entre para um seminário. Não significa que será sacerdote, mas ali terá as condições de ouvir melhor o chamado. Apenas 5% dos que entram para o seminário ficam padres. Os outros percebem que o chamado era outro. Mas não ficam mais na dúvida. A mesma coisa em relação à vida consagrada. Tenha coragem de entrar em um processo de discernimento. Em questão de vocação, a pior coisa é ficar parado. Dê um passo sem medo que seja o errado. Se for sincero, Deus o colocará no rumo certo.
Agora, o conselho contrário. Mesmo que sinta um certo chamado à vida consagrada ou sacerdotal, não dê esse passo por falta de opção. Todos os que Jesus chamou estavam ocupados e deixaram tudo para segui-Lo. Mesmo que você tenha namorado(a) e um ótimo emprego, isso será apenas uma confirmação vocacional se você deixar tudo para seguir o Senhor. Desocupados ficarão sempre na incerteza ou na indecisão. Quem deixa tudo para seguir o Mestre tem o sinal da confirmação vocacional em seu coração.
Padre
Joãozinho, SCJ
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