Amanhã é sexta-feira 13! (E hoje foi quinta-feira 12! E depois é sábado 14…)


Amanhã é sexta-feira 13 e o que temos a dizer a respeito disto é que hoje é quinta-feira 12 e depois de amanhã será sábado 14.

Dito isto, deixemos as bobagens de lado e falemos de coisas relevantes, como o perigo das superstições e algo ainda mais insidioso e sutil: a superficialidade com que muita gente reduz todo o sobrenatural ao mesmo nível da superstição.



SUPERSTIÇÃO

Superstições são crenças, sem base na razão, que levam a criar falsas obrigações atreladas tanto a esperanças quanto a medos infundados. Em geral, envolvem sinais (objetos, pessoas, acasos) que provocariam determinados acontecimentos, bons ou ruins: um gato preto que provocaria 7 anos de azar, um trevo de 4 folhas que traria sorte, uma cor de roupa que traria dinheiro e por aí afora.

Um conjunto particularmente perigoso de superstições envolve “ritos” que lidam com “forças ocultas” a fim predizer o futuro ou desvendar segredos sem recorrer a Deus – ou supondo recorrer a Ele, mas de uma perspectiva não cristã, não filial. Deus revelou algumas coisas sobre o futuro: por exemplo, que haverá um juízo e que existe a vida eterna (aqui não custa ressaltar que toda revelação divina é matéria de fé: ou você acredita, ou você não acredita; se houvesse certeza tangível, não seria fé: bastaria constatar e pronto. Também não custa lembrar que fé não é superstição: a fé consiste em crer em “parceria” com a razão e em harmonia com campos do conhecimento como a filosofia, a história, a biologia, a psicologia… A fé é uma busca de resposta que não nega a racionalidade. Já a superstição é uma crença acrítica). Para nos prepararmos responsavelmente para esse futuro, Ele nos deu meios naturais como a inteligência, o estudo, a ciência e, tão importante quanto, a liberdade: com o livre arbítrio, nós próprios podemos tomar as decisões que a nossa consciência e a fundamentação em parâmetros objetivos nos indicam como as mais adequadas e sólidas. Graças a essa mesma inteligência e realismo, também podemos reconhecer que não temos um controle pleno sobre o nosso porvir: ele está nas mãos de Deus. Cabe a nós fazer a nossa parte com o máximo empenho, confiando em Deus como o Pai infinitamente bom, que sabe quais desafios e quais conquistas nos convêm. Em síntese, como se diz popularmente, cabe a nós propor e a Deus dispor. Nessa panorâmica cristã, não cabe o recurso a sinais e ritos que visem “especular” o que cabe a Deus ou “dar um jeitinho” naquilo que devemos resolver nós mesmos, com a nossa inteligência e liberdade que Deus nos deu precisamente para… usarmos.

DESDÉM: SERÁ QUE TUDO QUE É “SOBRENATURAL” PODE SER DESCARTADO?

Há o outro extremo: o de não a levar a sério nada que tenha relação com o sobrenatural, reduzindo sumariamente o mundo a matéria e mero acaso. Nesta visão, qualquer conceito espiritual é tratado com desdém.

Menos abrangente, mas igualmente perniciosa, é a tendência, entre muitos crentes em Deus, a negar não a existência do espiritual, mas sim a existência do mal – em concreto, a existência do diabo, visto como fruto de “superstição” ou de manipulação por parte da Igreja institucional.

Por fim, um risco que merece especial atenção: o de brincar com o sobrenatural, particularmente com o mal, na tentativa de “confirmar que nada disso é sério”.

Segundo o exorcista espanhol pe. José Antonio Fortea, está entre as principais causas de possessão pelo demônio a participação em cultos e ritos esotéricos em que se invocam os mortos e as genericamente chamadas “forças ocultas”. Muitas vezes, há quem participe de tais ritos “só por brincadeira” ou “por curiosidade”.

NOSSA CULTURA LAICISTA E O AUMENTO DAS ATIVIDADES OCULTISTAS

Da brincadeira e da curiosidade às consequências imprevistas pode haver um passo curto.
pe. Gary Thomas, exorcista norte-americano cujo livro sobre a própria preparação em Roma serviu como base para o filme “The Rite” [O Rito], de 2011, gosta de citar o papa emérito Bento XVI dizendo que, “quando a fé diminui, aumenta a superstição”. De fato, entre os fatores culturais que têm levado ao crescente interesse e prática do satanismo e de outras atividades ocultas, o mais óbvio é o declínio da fé cristã no Ocidente. Os ocidentais, no geral, são pessoas impacientes: mesmo entre os que se declaram católicos, há muitos que vão atrás de curandeiros e de alternativas a Deus, no afã de “soluções instantâneas”. A confusa mistura entre o declínio da fé, a sociedade supostamente laica e as “brincadeiras” e “provocações” ocultistas parece indicar uma relação. Segundo o mesmo pe. Gary, o número de pessoas que estão se metendo com o ocultismo, seja através do satanismo, do paganismo, da idolatria ou de alguma outra modalidade, “a sério” ou “por brincadeira”, tem sofrido um aumento acentuado nos últimos 30 anos.

Em “The Occult Roars Back: Its Modern Resurgence” [O Ressurgimento Moderno do Ocultismo], Richard Kyle, professor de História e Estudos Religiosos da Universidade Tabor, no Estado do Kansas, EUA, cita vários especialistas acadêmicos que escreveram sobre as causas do grande aumento do interesse pelo ocultismo. Jeffrey Russell, por exemplo, observou que, historicamente, “o interesse pelo oculto cresce significativamente nos períodos de rápido colapso social, quando os padrões estabelecidos deixam de dar respostas prontamente aceitáveis e as pessoas se voltam para outras referências em busca de garantias”. Mas, acrescenta Kyle, também há uma base de fatores para o aumento do interesse pelo oculto, conforme proposto por Catherine Albanese, que “ressalta que muita gente foi preparada pela cultura norte-americana para se voltar a si mesma e ao universo em busca de certezas religiosas. A tradição protestante tendeu a apoiar a importância do conhecimento ou da crença na religião. Depois, a ala liberal do protestantismo modificou esta abordagem, enfatizando a presença de Deus em todos os lugares e destacando o otimismo americano em relação à bondade inata da natureza humana. O caráter difusivo do liberalismo e a sua falta de limites nítidos ajudou as pessoas a se ajustarem à ideia de viver confortavelmente sem diretrizes religiosas rígidas”.

Albanese também observa que “a organização urbana e corporativa da sociedade” fragmentou todo o senso de vida comunitária. Em seu lugar, “astrologia deu às pessoas um senso de identidade” e “as ajudou a estabelecer relações seguras com os outros. A autoajuda fez as pessoas adotarem certas medidas para conseguir a prosperidade, a saúde e a felicidade em meio às suas situações cotidianas. Videntes ofereceram cura física e orientação espiritual para lidar com os problemas do dia-a-dia”.

Ted Baehr, fundador e editor do Movieguide e autor de quase uma dúzia de livros, falou no II Congresso Mundial das Famílias sobre “Proteger as Crianças da Violência da Mídia”. Ele cita o estudioso Harold Bloom, da Universidade de Yale, que analisou “o surgimento da América pós-cristã em seu livro ‘A Religião Americana’, e que diz que o deus a quem adoramos somos nós mesmos. Ele afirma que a verdadeira religião da América do Norte é o gnosticismo, uma heresia elitista que combina filosofias místicas gregas e orientais e declara a necessidade do acesso a ‘conhecimentos especiais’ para se chegar ao mais alto dos céus”. A palestra de Baehr incluiu definições coerentes das crenças que atualmente competem com o cristianismo para conseguir seguidores nos Estados Unidos e em grande parte do mundo: o humanismo secular, o panteísmo, o materialismo, o niilismo, o romantismo, o existencialismo, o nominalismo, o idealismo, a New Age e o ocultismo.



OCULTISMO: MUITO MAIS ESTENDIDO DO QUE SUPOMOS

Richard Kyle fornece uma definição simples e moderna do ocultismo: “Primeiro, o ocultismo é misterioso, vai além do alcance do conhecimento comum. Segundo, é secreto e comunicado apenas para os iniciados. Terceiro, o oculto se refere ao mágico, à astrologia e a outras supostas ciências que alegam o conhecimento do secreto, do misterioso ou do sobrenatural”.

Até que ponto a crença no oculto é difundida? Uma pesquisa da Gallup, em 2005, revelou que três em cada quatro americanos acreditam em ocultismo. Considerando-se que a nossa cultura proporciona um terreno fértil para o crescimento do satanismo e das práticas ocultas, contemplemos o que temos semeado neste solo receptivo. Ted Baehr traz à tona o fato óbvio de que muitas crianças não estão sendo criadas numa relação de intimidade com Deus, mas em meio a influências como “Assassinos por Natureza”, “Halloween” e “Pânico”. Será um exagero? Muito provavelmente não. Considere as séries de televisão dos últimos anos: “Vampire Diaries” [“Diários de um Vampiro”], “True Blood” [“Sangue Fresco”], “Buffy the Vampire Slayer” [“Buffy, a Caça-Vampiros”], “Charmed” [“As Feiticeiras”], “Sabrina the Teenage Witch” [“Sabrina, a Bruxa Adolescente”], apenas para citar algumas. Ou filmes de grande sucesso, como “O Exorcista”, “O Bebê de Rosemary” e “The Craft” [“Jovens Bruxas”], que empalidecem em comparação com os filmes da saga “Crepúsculo”, com faturamento bruto mundial de 3,3 bilhões de dólares, e com os filmes de Harry Potter, que arrecadaram 7,7 bilhões de dólares. Também podemos recordar RPGs de fantasia ocultista, como “Dungeons & Dragons” [Caverna do Dragão], de 1974, e seus muitos “herdeiros”, todos ligados ao mundo da feitiçaria.

Estudos psicológicos indicam que 60% dos adolescentes com dependência química apontam a música “death metal” como seu gênero musical favorito. As letras glorificam o satanismo e o ocultismo, a anarquia, a violência, o abuso de mulheres e crianças, o assassinato, as drogas, o suicídio, o incesto, o estupro e a necrofilia. Richard Ramirez, famigerado assassino em série conhecido como Night Stalker, era obcecado com a banda de heavy metal (ou “death metal”) AC/DC (embora haja controvérsias técnicas quanto à precisão de catalogar esta banda como de death metal). Satanistas adultos são conhecidos por “recrutar” novos membros em shows desse tipo de música e em convenções de jogadores de videogame.

O Dr. Baehr observa que a maioria das crianças expostas ao satanismo e ao ocultismo por meio da mídia de entretenimento não adere automaticamente a esses grupos. Mas a maioria se torna insensível aos males ali representados e uma minoria significativa acaba ficando assustada e paranoica. Ele acrescenta que “pode haver consequências de longo prazo ao se assistir a material antissocial” e, “lamentavelmente, de 7% a 11% dos adultos e até 31% dos adolescentes dizem querer copiar aquilo que veem”.

Existe ainda outra forma de a nossa cultura promover a opressão demoníaca. Como explica o pe. Thomas, as pessoas atacadas por demônios têm muitas vezes feridas na alma, por terem sofrido abusos físicos ou sexuais na infância, o que muda a sua percepção da vida e de si mesmas e a sua capacidade de se relacionar com os outros. “Os demônios”, diz ele, “estão sempre à procura de seres humanos com relações fragmentadas”. Os demônios podem possuir ou oprimir uma pessoa através dos seus sentidos; eles precisam de uma abertura que torne a vítima vulnerável. As “aberturas” mais comuns, de acordo com o pe. Thomas, incluem o vício em pornografia na internet e o uso de cocaína, metanfetamina e outras drogas que causam alucinações.

A obra “O Reino do Oculto”, de Walter Martin e outros autores, traça o perfil de adolescentes do sexo masculino atraídos para o satanismo e para ocultismo por serem pessoas psicologicamente machucadas, rebeldes, hedonistas e niilistas, usuárias de drogas, solitárias e mal-sucedidas. Eles se sentem “impotentes, isolados e vítimas”, e o satanismo lhes dá uma sensação de controle, de status e de pertencimento a um grupo. Já os adultos são mais frequentemente atraídos para os cultos satânicos pelo seu elitismo, secretismo, hedonismo, pornografia, prostituição e desejo de adquirir poderes mágicos.

DEVEMOS TEMER?

O pe. Thomas salienta que não devemos temer os ataques demoníacos. O seu filho ou o seu neto que joga RPG e a sua filha ou a sua neta que “ama” algum personagem de “Crepúsculo” não vão necessariamente acordar de repente com os olhos esbugalhados e falando fluente aramaico. Mas o pe. Thomas recomenda quatro meios cotidianos para nos protegermos dos ataques demoníacos: uma vida vivida de acordo com a boa moral, uma vida de oração, uma vida de fé e uma vida sacramental. Todos nós faríamos muito bem se aceitássemos essas recomendações.

TÁ BOM, TÁ BOM… MAS E QUANTO À SEXTA-FEIRA 13?

Ela não significa nada, a não ser que a quinta-feira foi dia 12 e o sábado será 14. Aproveite-a para rezar o terço e ir à missa. Ajude alguma pessoa, com sincera caridade cristã e sem esperar nada em troca. Trabalhe com esforço e responsabilidade. Sorria! Alimente-se bem, leia, exercite-se, namore, brinque com seus filhos, beije seu cônjuge, visite seus pais, converse com seus amigos, analise com raciocínio crítico as notícias do dia, estude algo, combata seus vícios, pratique a virtude, engula aquela vontade louca de fofocar ou resmungar ou criticar os outros, faça comentários propositivos e construtivos, beba água. Fale com uma boca e escute com dois ouvidos. Se sobrar tempo, divirta-se com sua família vendo alguns vídeos engraçados no YouTube – sobre gatos pretos, de preferência: eles não dão azar, não. E tenha um ótimo fim de semana!

Via Aleteia Brasil

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